CRÓNICAS VIDA ACADÉMICA

Procrastinação, amiga da faculdade

20 de Março, 2022

Há coisa de duas semanas, dois dos meus professores enunciaram um trabalho que deveria estar a desenvolver de momento. Partindo do pressuposto de que existe vontade para tal. Se fosse há uns anos, sei que o meu sentido de responsabilidade jamais me levaria a falhar com datas, mais não seja para não me sentir afogada perto das de entrega…contudo, depois de tudo o que vivi nos últimos meses, confesso que esta roupagem de quem leva a vida (demasiado) na descontra permite-me estar bastante folgada.

Não sei descrever o que sinto, além de um tédio descomunal perante este novo semestre.

Não duvido do meu amor pelo mestrado que escolhi. Penso que de todos os que tive debaixo de olho, este é o que se adequa melhor aos meus planos e inclinações… Porém, há uma nuvem secante que espalha a sua areia pelas diversas cadeiras, formando dunas que me impedem de detetar o seu verdadeiro potencial. E tal postura, como seria de esperar, funciona como que uma chave para as catacumbas da procrastinação.

Este foi o meu primeiro fim de semana por casa, livre de responsabilidades além dos estudos. Há coisa de um ano que não usufruía deste tempo livre, tendo transitado de um trabalho no qual folgava às segundas para uma rotina em que não havia espaço para relaxar…a não ser que eu faltasse às aulas que considerasse menos importantes e mais fáceis de acompanhar por conta própria.

Depois dos resultados do primeiro semestre, posso apurar que esta estratégia resultou, muito também pelo modo foda-se que tive de ligar. Estando a estudar de segunda a sexta e a trabalhar de sexta a domingo, seria demasiado ousado exigir de mim mesma uma super dedicação que não me embalasse nos braços de um burnout. Já estive perto de um, na altura em que me fiquei pela licenciatura.

Mesmo que tenha jurado nunca mais voltar para a faculdade, a verdade é que plantei um vazio que se foi desenvolvendo nos dois anos em que fiquei por casa a cuidar de mim.

Com o orgulho em altas, pensei que a solução seria escolher outra área de estudos, mudar de país ou talvez de galáxia…todavia, a resposta era óbvia. Eu só precisava de tempo para amadurecer. Quando decidi voltar, e baseando-me nos desafios que enfrentei ao longo do trabalho de verão, prometi que tentaria levar a vida na boa. Que mesmo perante stresses, eu respiraria fundo e me relembraria dos sacrifícios que tive de fazer para trabalhar durante cinco meses ali, de modo a poupar para pagar as propinas e tanto mais.

Sacrifiquei horas na companhia de amigos, trocas de mensagens, momentos de descanso. Tal como sacrifiquei a minha criatividade, esta que se transfigura a todo o momento, estendendo-me os braços para que eu a manifeste. Portanto, e para não perder o fio à meada, só quero partilhar a minha falta de vontade em começar este tal trabalho para Administração Urbanística.

Eventualmente ele terá de ser feito. Não me apetece muito ir a exame, sobretudo pelo facto do trabalho e sua apresentação serem os únicos instrumentos de avaliação. Mais easy peasy do que isto não existe. Eu é que pronto, impliquei com ela, deambulei nas minhas próprias recordações, partilhei parte das razões que alimentam a minha procrastinação…

Embora já tenha feito dois trabalhos para outras duas cadeiras além desta hoje. Nem tudo está mau. Seria de esperar que após este desabafo, eu abrisse o browser e me colocasse a pesquisar legislações no site da câmara municipal do meu interesse…mas vou antes sentar-me na sala e ver uma série. Eventualmente, este trabalho terá de ser feito. Só que não será hoje.

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