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AÇORES LAGOA DO CANÁRIO E LAGOA DAS SETE CIDADES

7 de Setembro, 2018
A viagem para os Açores foi uma autêntica surpresa. Mal tinha passado uma semana desde que chegara de Paris, quando me ligaram a convidar para uma outra viagem, sobre a qual permaneceu um mistério acerca do destino. Eventualmente, acabei por saber para onde é que iríamos, tendo partido na sexta dia 24 de manhã e regressado na terça dia 28 à tarde. Julguei que não me fosse custar nada, mas custou: custou-me um corpo cansado, uma alma desorientada e umas ideias fora do lugar. A substituir, vim mais contente comigo mesma, com um ar rejuvenescido e uma vontade assombrosa de fazer tudo e mais alguma coisa pela minha vida.

Como parte do roteiro, no segundo dia da estadia decidimos visitar a Lagoa do Canário e, no Miradouro da Vista do Rei, apreciar a Lagoa das Sete Cidades. Localizada numa cratera vulcânica, a Lagoa do Canário é resultado da formação vulcânica do Maciço das Sete Cidades. Somos assomados por uma realidade quase que paralela, onde a paisagem que nos rodeia é mais verde do que poderíamos imaginar, plantando em nós um choque paralisante e que nos coloca a repensar em tudo o que havíamos vivido, até ao momento.

Oriento que toda a experiência na Ilha de São Miguel foi de matar e enterrar a ansiedade com destreza, mirando também os anseios que, na volta, insistem em me perturbar. Assim que me deixei embrenhar pelos limites que ladeiam a Lagoa do Canário, dei início a uma conversa com toda aquela natureza, respirando fundo sem qualquer dificuldade e exalando todo e qualquer tipo de preocupações. Localizada praticamente no alto daquelas montanhas, a humidade fazia-se sentir, o céu encontrava-se nublado, mas o calor que nos abraçava nos momentos em que o sol se exibia contribuiu ainda mais para a experiência!
Já a Lagoa das Sete Cidades conta uma história diferente. Segundo dizem, no tempo em que os reis reinavam, houve uma princesa que se apaixonou com um plebeu, tendo demonstrado o seu apreço junto de seu pai. Inconformado, o rei proibiu a filha de se casar com o seu amado, tendo despoletado nos dois um acesso de amargura imensurável, tendo os dois chorado, cada um no seu canto, até formarem duas lagoas que se cruzam. A lagoa mais azul dizem pertencer às lágrimas da princesa, sendo a mais esverdeada correspondente aos olhos do plebeu.

Embora dramática, é uma história comovente. E mais comovente ficamos quando, no alto do Miradouro da Vista do Rei, sem qualquer tipo de edifício a tapar o panorama, nos despimos espiritualmente para aquela exibição da natureza! Como se não houvesse início nem fim, o nosso olhar se perde nas inúmeras tentativas de captar todos os momentos daquele cenário, nunca se cansando de apostar naquela descoberta. Viajar para São Miguel foi um soco no estômago, enquanto estudante de Arquitetura. 

Pessoalmente, senti que até agora nunca fui de apostar em espaços verdes nos meus projetos, embora os aprecie enquanto ser humano. Aquela ilha chamou-me a atenção para este facto, também, enquanto viajante: nem sempre, o fascínio pelos locais está diretamente ligado às projeções espaciais aos quais o Homem tem a capacidade de dar vida. A Natureza, por si só, é também uma grande Arquiteta, começando por nós que, apesar de tudo, comportamos em nós um certo fascínio. E, quando temos a oportunidade de aproveitar estas relíquias, só nos cabe a missão de as conservar ainda mais!

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