Pensei muito se deveria escrever a Retrospetiva de Fevereiro. Aliás, tenho pensado mais vezes em deixar o blogue em pausa oficialmente do que em qualquer outra coisa, mas o que seria de mim se cortasse este laço? Será que sobreviveria em condições? Acho que não, embora fale da minha (ainda) dificuldade em deixar ir determinadas coisas.
No entanto, para quê deixar ir determinadas coisas se, talvez, o ideal seria transformá-las? Leve o tempo que levar, espero descobrir que rumo quero dar ao blogue daqui adiante, fazendo as pazes com a ideia de, ultimamente, não me apetecer tanto partilhar coisas aqui. Até lá, há coisas que tenho pendentes sobre fevereiro que, após este tempo, ainda quero deixar registado.
Fevereiro passou mais rápido do que janeiro, mas não foi necessariamente mais fácil.
Ter regressado às aulas a meio do mês bagunçou um pouco a minha rotina, da qual tenho feito por reconstruir aos poucos. Treinei mais do que esperava, num registo completamente solto dentro dos dias estipulados, na medida em que não me pressionei a ir ao ginásio. Simplesmente fui, aproveitando cada hora com todo o cuidado para não ultrapassar o tempo do estacionamento gratuito, enquanto me focava (e foco) na recuperação do meu joelho.
Agora em março, vou à fisioterapia para descobrir de onde vêm as dores e como as tratar. Mexer o corpo sempre foi um veículo de autoconhecimento para mim. Pese embora as vezes em que me derrotou mais do que me emancipou, posso afirmar que se tem tornado cada vez mais num lugar seguro, no qual me sinto livre para experimentar, ultrapassar limites, fazer cara feia e ressignificar o stress.
Saber que tenho conseguido voltar a correr, sempre num tempo em específico para que não massacre o joelho, conseguindo manter-me resistente, é uma pequena conquista para a qual dedicarei um espaço de apreciação.
Para quem detestava correr, fazê-lo sem que esteja constantemente a ruminar é sinal de como os meus complexos físicos têm-me dado cada vez mais tréguas.
Será impossível determinar se em algum momento da minha vida, a dismorfia me abandonará… Contudo, neste momento, estamo-nos a entender. Dentro dos meus infinitos projetos, tive a honra de participar de alguns de carácter artístico.
Apoiei na curadoria de uma exposição que está a ocorrer na biblioteca da NOVA SBE, tenho vindo a receber formação para a extensão de um clube de desenho chamado Lisbon Drawing Club, vou criando conteúdo para as redes sociais do Mais Uno+1, coletivo do qual também sou membro.
No meio destas atividades todas, dei-me conta do meu talento de networking, esta linda capacidade de saber um pouco sobre tudo o que está a acontecer, sendo capaz de conectar várias pessoas que precisem umas das outras!
É incrível como a curiosidade consegue operar em tantos âmbitos.
Tentei, infinitas vezes, voltar a trançar o cabelo, só que por algum motivo, não consegui. Em compensação, descobri uma maravilha dos deuses chamada gelatina capilar que, pasma, foi dos primeiros produtos com o qual consegui fazer caracóis na minha afro. Este pequeno detalhe é um acrescento gigante na minha autoconfiança enquanto mulher negra.
Ter crescido a ouvir diversas coisas sobre o meu cabelo, contribuindo para o meu desconforto de todas as vezes em que o tenho solto, ajudou a que nunca tivesse conseguido ficar mais do que uma semana sem o trançar. Desta vez, porém, sinto-me não só mais segura da minha beleza quanto entusiasmada para redescobrir e melhorar a minha rotina capilar.
A primeira vez, inclusive, em que obtive caracóis perfeitinhos, fiquei a dançar em frente do espelho, de todas as vezes em que cruzava com o meu reflexo. É uma alegria impossível de descrever. Celebrei poucos aniversários, mas o bastante para conhecer um novo sushi aqui na cidade, super delicioso! Colecionei, desse jantar, uma instax que guardo na capa do telemóvel, tal como um novo espaço na barriga para as vezes em que quiser ir ao sushi e o quiser fazer sem me preocupar com a qualidade.
Falando em comida, em fevereiro superei as vezes em que adaptei, repeti e me deliciei com as minhas receitas de pão, bolo e panquecas!
Esta, inclusive, é uma das razões pelas quais ainda não abortei o blogue, por querer MUITO escrever e partilhar as receitas convosco. São tão boas que seria um crime não as dar a conhecer!
Visto que tendo a comer doces em momentos de stress, sendo uma questão bem mais complexa do que isso, muitas vezes refletindo-se na fome de açúcar ou farináceos, assumir a responsabilidade de cozinhar de acordo com as minhas necessidades, dando-lhes um twist que me deixa super satisfeita – usar vegetais em receitas doces, por exemplo – tem-me ajudado bastante a evitar doces de pacote ou máquina, sobretudo quando estou no trabalho.
Nem sempre lhes resisto, no entanto, a vontade já não é tão imperativa. Ena, escrevi mais nesta introdução do que o normal! Também em fevereiro….
- encerrei o meu ciclo na residência artística onde usufrui da experiência de ter um atelier e convivência com outros artistas;
- fiz uma curta visita a uma das praias em Cascais;
- desenhei e pintei imenso não só de forma espontânea quanto no curso de pintura de três meses;
- finalizei o curso de pintura e desenho que ganhei num sorteio do instagram;
- precisei de desinstalar os plugins do WooCommerce uma vez que estavam a gerir conflito com a estrutura do blogue. A ideia da loja terá de ficar para outra plataforma;
- fiz uma sesta memorável nos jardins da Gulbenkian após desenhar patos;
- terminei uma leitura que pendia desde o ano passado;
- chorei e tratei algumas feridas antigas, descobrindo novos desafios aos quais terei de prestar melhor atenção;
- decidi que, por enquanto, o podcast terá uma periodicidade quinzenal.
▬ Leitura do mês
Quem diria que eu me transformaria numa leitora de romances? Pois é, tem vindo a acontecer. Começou com o livro que mencionei na retrospetiva de janeiro… O escolhido para a retrospetiva de fevereiro foi escrito pela Colleen Hoover, comprado no verão passado. Falo de “Corações Feridos”, lido num recorde que há muito não alcançava de menos de 24h!!
Trata-se de uma leitura leve, não sinónimo de vazia, que narra a história de Beyah que cresceu com uma mãe problemática, na ausência do pai e cujas circunstâncias de vida fizeram-na seguir caminhos desafiantes. No verão antes da faculdade, ela vê-se obrigada a ter de se mudar para a casa do pai, localizada numa ilha, na qual conhece a outra parte da sua família e o seu amor de verão.
De todos os plot twists e consecutivo final, este era o que menos esperava. Sinceramente, não sei como é que não chorei pois embora a minha paixão mais recente não tenha tido o mesmo destino do que o Samson, houve detalhes da sua história de amor que me fizeram recordar a minha. A nossa. Por isso e muito mais, a leitura fez-se rápida, com os seus detalhes intrigantes, os seus clichês, todavia abordando temas muito importantes da vida.
▬ Áudio do mês
Ouvi muitos episódios soltos de vários podcasts. De todos, o que me inspirou mais foi o “envelhecer” do errando em público, podcast que conheci por via da Ellora. Estou a pensar, desde então, sobre os meus medos de envelhecer, as vantagens, as desvantagens… Tanto que planeio gravar a minha versão para a próxima sexta. Deixarei, assim, as impressões para o podcast!
▬ Artigo mais lido do mês…
Nenhum, dado que o blogue esteve em manutenção durante o mês, para não mencionar os problemas técnicos que se seguiram.
▬ …mas o que mais gostei de escrever foi…
As meditações relativas ao meu lado sombra, no journal. Sei que é inusitado ficar contente com a consciência de ter um lado negativo a habitar em mim…. Mas como poderei ser capaz de melhorar se não aceitar que tenho características boas e más, abraçando-as com a mesma hospitalidade? Foi um passo importante para mim pois significa que tenho confiado cada vez mais em mim para surgir com soluções para qualquer problema que eu tenha (e que esteja ao meu alcance de resolução).
▬ Uma conquista (dentro ou fora das metas’24)
Manter a periodicidade das idas ao ginásio, respeitando quando estava mais cansada ao ponto de não aparecer (não obstante as vezes em que tive de me forçar para não comprometer o meu senso de disciplina e compromisso para com a minha palavra).
▬ 1 fotografia
Poderia colocar toda a minha galeria aqui… Ainda assim, sinto-me capaz de escolher uma que me tiraram na praia e outra com os meus caracóis!
▬ 1 aprendizagem
Não tem mal algum em querer partilhar-me com alguém, contando que parta de um lugar de vontade. Dar e receber amor está na essência da nossa espécie (leia-se em linguagem científica ou mais poética), logo não deveria sentir-me uma impostora por, aos poucos, aceitar a ideia de, num dia, querer estabelecer uma relação séria com alguém que também se queira partilhar comigo.
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