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Nem sei por onde começar. Sempre que compro livros do Saramago, a intenção é de o ler num momento bastante específico. São aquelas alturas em que estou a sofrer ressacas de escrita, a criatividade está bloqueada e a imaginação idem. Sinto que, ultimamente, a minha relação com os livros tem sido muito semelhante: primeiro que mergulhe com profundidade sem a necessidade de saltitar de livro em livro, largo-os à mercê da espera.
Foi preciso que o meu kindle bloqueasse – felizmente, já o arranjámos – para explorar esta obra num período de dez dias!
Confesso que a primeira metade é bastante maçante… Não sei se para me mentalizar de que estava a ler uma história religiosa…ou se, efetivamente, as primeiras páginas são uma introdução demorada. A verdade é que não esperava gostar tanto de explorar a vida de Jesus Cristo aos olhos de uma interpretação deste mestre da literatura portuguesa. Há algo acerca da qual ele nunca tenha escrito? Isto não só revela a sua genialidade, como vinca a importância de sermos observadores enquanto escritores!
O mais curioso desta experiência é saber que Saramago era ateu, então, como pôde ele adensar tanta informação sem ofender ou desprezar a importância da história na nossa sociedade? Óbvio que para ofender quem quer que seja, não precisamos de muitas artimanhas. Por não ser religiosa, nem tão pouco acompanhar os acontecimentos da igreja – exeto os que são realmente chocantes -, não tenho como reconhecer a veracidade de certas informações. Contudo, foi muito delicioso percorrer estas páginas antes de dormir.
Há algo de aliciante na ideia de observar o desenvolvimento de Jesus segundo os ensinamentos de Satanás e Deus, vindo mais tarde a saber que ambos são o espelho um do outro.
Nunca tinha parado para pensar com profundidade nesse aspeto. Ver uma figura demoníaca como uma das peças que deus criou para conseguir o que quer, revelando, aqui, uma presunção que demonstra, em certa medida, de que lado do campo joga a crença do autor. Revoltei-me muitas vezes pelo modo como as mulheres eram descritas, claro que correspondendo com os modos da altura.
Acho desgostoso perceber que de lá para cá, muitos gestos permanecem, embora com algumas melhorias. Enfim, o evangelho segundo jesus cristo entrega uma trama ousada, inteligente e muito envolvente. De todas as interpretações quanto à vida de jesus e seus apóstolos, esta é capaz de ter a camada mais realista!
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