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BOOK REVIEW | “Kafka à beira-mar” (*)

27 de Março, 2022

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Procrastinei em demasia em relação à review deste livro. Parte por causa da preguiça…assim como a falta de palavras. Nunca me faltam palavras para o que quer que seja, sobretudo quando os monólogos são internos (não é em vão o facto de ter escrito e publicado um livro!). Terminei esta leitura há meses, mas ainda penso nela.

O Murakami tem este efeito em mim. Não sei se positivo ou negativo. Só sei que o seu trabalho inspira-me bastante. Através dos seus cenários, eu alimento os meus. Quanto a isso, julgo que ele faça o seu trabalho na perfeição. No entanto, relacionado ao “Kafka à beira-mar”…tenho a leve sensação de que a experiência equivale à de “Sputnik, meu amor”.

Não invalido, de todo, o dom que este escritor japonês tem em particularizar certas problemáticas sociais, explorando-as com uma mestria fantasiosa… Contudo, isso não quer dizer que resulte para todos. Acho que levei tanto tempo a escrever sobre este livro porque me quis obrigar a gostar dele. Pelos vistos, nem com isso sei lidar ainda… Com o facto de, também eu, ter opiniões menos boas para dar!

 “Kafka à beira-mar” aborda temas muito sensíveis tais como o abandono, o incesto, a irresponsabilidade parental, a identidade de género…

…o que não deixa de ser fascinante, uma vez que Murakami pincela tudo com uma delicadeza agressiva. Agressiva no sentido de crua. Melhor ainda, trata-se de uma agressividade que nos empurra para diversas alternativas da realidade sem que elas deixem de o ser. Há momentos marcantes em “Kafka à beira-mar”, embora não os saiba recitar de momento. O facto é que ainda penso nele… Visto que com o Murakami é assim…

Nem todas as suas palavras farão sentido, contrapondo as expectativas que cada um de nós constrói diariamente. Todavia, isso não o inibe de penetrar nos nossos espíritos e plantar uma semente. O mais incrível é que estou a par do entrelaçamento ao longo das suas diversas obras. Perante isso, como não ficar intrigada?
Kafka é um jovem de 15 anos que decide fugir de casa em busca de respostas para o seu vazio existencial.

Estando a deambular por uma fase semelhante, concordo que explorar este livro agora teria feito mais sentido. No entanto, podendo adivinhar, acredito que a minha intuição guiar-me-ia por outros trilhos. Enfim. Ele leva avante esse seu plano, sempre fiel à orientação do seu amigo mais chegado, deixando-se entranhar nas situações mais peculiares. Paralelamente, existe Nakata, uma personagem caricata, perspicaz…e muito negligenciado pelos que não o compreendem.

Na minha interpretação, este livro fala sobre autodescoberta. Não só isso, como também de depressão, perda de identidade e uma busca incessante por uma tranquilidade exterior que, certamente, só pode ser encontrada no íntimo de cada um de nós.

É um livro sobre amores perdidos e jamais recuperáveis…aventuras estimulantes mas que, por conseguinte, revelam-se apenas numa fuga do que nos entristece de facto. De tudo o que já li de Haruki Murakami, este é capaz de ser dos livros mais depressivos. Pelo menos, agora que olho para trás e tento, com algumas dúvidas em relação à memória, juntar as peças deste puzzle.

Certamente que não faltam referências musicais, carros desportivos e mistérios. Adoro como nada parece estar conectando, convergindo com subtileza e inteligência. Esta última frase tanto pode ser encarada como spoiler ou um reconhecimento das qualidades deste escritor! Pela parte que me atinge, fico-me pela segunda opção.

Apesar de tudo, “Kafka à beira-mar” acompanhou-me em muitas viagens nos transportes, maioritariamente ao som do álbum “Channel the Spirits”, dos The Comet is Coming. Sem dúvida que a minha fome pelos seus livros não morreu, tanto que tenciono explorar o “Norwegian Wood” o quanto antes! Até lá, deixo no ar a oportunidade de explorarem este (ou outros) livros deste escritor, na esperança de vos converter em potenciais admiradores do seu trabalho.

Entretanto, conta-me: já conhecias Haruki Murakami? Que livros dele já leste?

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