Um dos meus pânicos é perder a memória, independentemente das razões por detrás. Fico com medo, só de imaginar uma realidade na qual eu não me recorde de pormenores relacionados comigo, nem tão pouco as pessoas que amo e que tenho na vida. Estremeço, até. Tudo o que eu puder exercitar, no entanto, para contradizer esse receio, eu faço: desde a escrita no diário, à meditação, ou mesmo ao ato de fotografar!…
Quanto a este último, peco por ainda não me ter dedicado a organizar recortes que queira imprimir, mas a questão é: existem muitos gestos que, até de modo inconsciente, simbolizam esta minha necessidade de não deixar passar ao lado certos aspetos que me são importantes. Estou, de momento, a fazer uma pausa neste vídeo da Vitoria Dozzo, e que, inclusive, foi o que me inspirou a escrever esta reflexão.
Recordei-me, de igual modo, do projeto da Andreia Morais, o Estante Cápsula, e que incluía uma questão acerca do modo como marcamos as páginas e citações dos nossos livros. Registei o facto de os sublinhar, mas julgo nunca ter explicado, então, as razões. Para mim, sublinhar livros é uma espécie de celebração à nossa memória e às palavras que contêm algum sentido, na altura. É materializar, sobre um papel impresso, um detalhe que a nossa mente, já de ela abstrata, considera importante.
Há um auto-reconhecimento naquelas passagens.
É um modo de viajarmos no tempo, confrontarmos a pessoa que fomos e, a partir de determinado ponto, tecer aquela que almejamos ser. Concordo com praticamente tudo o que a Vitoria diz no seu vídeo. Os livros são encarados, pela grande maioria, como objetos sagrados, embora representem mais do que isso. Pelo menos, com a intensidade que se denota no seio dos leitores. Cada um faz o que quer com os seus livros, aqui, não há espaço para censuras.
O objetivo de uma leitura é a de nos educarmos, aprendermos acerca do mundo, desenvolvermos virtudes que nos auxiliarão a ser uma pessoa melhor… É, do mesmo modo, a de nos refugiarmos da realidade em que vivemos, seja ela qual for. Uma leitura, a meu ver, deve ser dinâmica. Interativa. E, pessoalmente, quando escolho empunhar um marcador e destacar uma ideia do autor, estou a experimentar, à minha maneira, aquele conjunto de citações.
Ademais, sinto que estou a valorizar a mensagem que me está a ser transmitida, sem que isso anule a maneira como os restantes o fazem. Jamais! Dobrar as orelhas das páginas, colar post-its nas bermas, sublinhar ou deixar notas, é partilhar as nossas histórias e mergulhar em pensamentos que possam divergir e convergir em simultâneo. Todos os livros, independente dos géneros, carregam ensinamentos que nos poderão ajudar, em algum momento, por isso, este método de apreensão das ideias.
apesar de tudo, não deixamos de ser livres
Não quero, por consequência, tentar convencer-vos a fazer o mesmo do que eu: repito-me quanto à liberdade que cada um de nós tem de fazer o que bem entender com os seus livros. Contudo, e por muito excessivo que isto seja para alguns, creio já estarmos evoluídos o suficiente para não fazermos cara feia, ou julgamentos, de todas as vezes em que alguém partilha este seu modo de viver as histórias, ou de todas as vezes em que vêem páginas riscadas e se sentem incomodados.
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