Não é uma simulação, eu realmente consegui iniciar e terminar um livro para o tema mensal do clube, dentro de um prazo aceitável, e sinto-me irreconhecível. Há imenso que tal não se sucedia. É um facto ainda ter o mês de Março por cumprir? É um facto, mas quero realmente arruinar este momento tão épico? Não, obrigada. Apesar de ainda ter cá por casa dois livros que quero ler deste autor, este monólogo era o que mais me chamava a atenção, tendo em conta o fascínio que reservo para os momentos em que exploro o que o Murakami tem a dizer. É um livro pequeno que, facilmente, poderia ter sido lido no dia em que comecei, no entanto, quero acreditar que esta minha mania de adiar leituras em progresso se deva ao ato de as querer degustar em condições.
Para quem conhece o estilo de Murakami, sabe que ele muito gosta de explorar o realismo mágico e colocar à prova o nosso entendimento do mundo. Pelo menos, é essa a minha interpretação. No entanto, quis acreditar que ao falar de duas das camadas da sua vida, ele adotaria uma nova abordagem, porventura, e excluindo as fantasias, ao falar de si ele é tão fascinante ao recorrer a um tom amigável e acessível, quanto nos seus romances. Mesmo tratando-se de um auto-retrato fazendo alusão à importância da corrida na sua vida e o modo como esta atividade física influencia a sua escrita, dei por mim envolta numa espécie de mistério, porque apesar dos seus esforços em melhorar a sua condição física para se superar na maratona seguinte, não havia maneira de saber se tudo correria como esperado ou se os planos sairiam completamente ao lado.
Houve fases do livro em que o senti a dialogar comigo, a prestar-me conselhos valiosos e que me acalmaram e inspiraram a encarar o meu momento com ainda mais foco e calma. Por duas ou três vezes, e excluindo o ano em que frequentei uma equipa de basquetebol, eu tentei começar a correr. Parte da nossa inimizade justificava-se na minha falta de domínio para com a minha resistência, então, quando me senti mais preparada nesse aspeto, quis colocar-me à prova. No início de 2020, inclusive, desafiei-me a correr novamente e, não obstante a satisfação pós-treino, concluí de que correr não é a minha cena e que muito mais fácil seria encontrarem-me a dançar por seis horas seguidas, numa intensidade inconcebível e, para adoçar a situação, sem beber uma pinga que seja de água.
O próprio Murakami desabafa, aqui, que é incompreensível tentar converter pessoas para o mundo da corrida se aquele mundinho não as fascinar de todo, e que existem detalhes na vida que se nos aparecem mais, ou menos adequadas, conforme a nossa preparação existencial para as abraçar. Gargalhei imenso, senti-me aconchegada e ter podido conhecer um pouco mais da fonte de jovialidade e inspiração deste escritor tão enigmático, característico e cuja inteligência é inspiradora foi uma experiência de que estava a precisar!
Já leram algum livro do Murakami? Como é a vossa experiência? ♥
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2 Comments
Andreia Morais
17 de Abril, 2020 at 18:51Finalmente, estreei-me em Murakami, com 1Q84. E queria muito avançar para o segundo volume ainda este mês. Adorei a sua escrita e já me deixaste cheia de vontade de adicionar este à lista *-*
Carolayne
22 de Abril, 2020 at 9:071Q84 é uma autêntica viagem!! *o* A escrita dele é tão boa e faz-nos partir daqui para um outro universo, gosto mesmo! Vais adorar o decorrer da trilogia, é muito interessante! Eheh espero que gostes das histórias dele no futuro! <3