Sem grandes esforços, sei que consigo soar bastante contraditória. Quem já tiver lido a minha última opinião acerca do penúltimo filme que vi, nos últimos tempos, denotará uma certa agonia em relação ao facto de eu, há imenso tempo, não me cruzar com uma produção que me atice à sua degustação. Naquele mesmo dia, como que por ordem do destino, fui ao cinema assistir ao novo JOKER e, confesso: há imenso que eu não sentia empatia por uma personagem, acrescido ao facto de nunca, em toda a minha existência, ter nutrido tamanho apreço por um palhaço. Para quem se considera um/a grande apreciador/a de super e anti-heróis, deparar-me com uma produção destas revelou-se uma autêntica surpresa. Para aqueles que, também como eu, são apreciadores superficiais, por assim dizer, não deixa de surpreender a mestria por detrás de um filme capaz de nos prender a atenção, do inicio ao fim, sem tecer grandes referências que nos são habituais e que, aí sim, nos estimulariam a vontade de contribuir um pouco mais para o mundo cinematográfico.
Com a trilogia O Cavaleiro das Trevas (Batman), protagonizada por Christian Bale, Heath Ledger, Morgan Freeman e Michael Caine, torna-se um tanto impossível, ou improvável, não nos deixarmos enamorar pela historia e criação do Batman, contudo, a performance, ainda hoje recordada, de Heath Leadger deixou muito a desejar – pela positiva e, obviamente, em termos de quantidade e que se revelasse necessária para o esclarecimento da criação de tamanha personagem -, tendo sido um tanto arruinada pela de Jared Leto, em Suicide Squad. JOKER, por seu turno e brio, foi capaz de impressionar, apaixonar e esclarecer muitas questões que, em mim, eu conservava em inconsciente segredo, tendo ali jazido bem resolvidas, ao longo da sessão inteira. JOKER é, sem sombra de dúvidas, uma personagem de forte personalidade e de um fascínio quase que indescritível.
Mesmo consciente de que os seus atos representem um assalto abismal aos nossos conceitos de moralidade, o facto é que eles nada mais são do que uma consequência dos seus problemas mentais e que, pela mesma ordem, também se caracterizam por um determinado acumulo de ações, vivências e exposições de carácter interno e externo. Escrevo esta opinião no momento adequado, considerando que, ainda há pouco – no dia em que a escrevi, efetivamente -, estive a debater um pouco acerca de sociopatas e psicopatas e se, tanto num grupo como no outro, existirá a possibilidade dos seus indivíduos poderem ser submetidos a um gatilho que se revelasse propício a qualquer stress acrescido. JOKER, se age como vamos acompanhando ao longo do filme, é porque certas ações de outros indivíduos serviram como estímulo para, isto sem deixar de mencionar que a matéria de causa e efeito é algo bastante legítimo e que nos poderá inspirar a reconsiderar os nossos atos.
A fotografia é coerente, de tons agradáveis e contíguas com a história narrada; esta última, embora apresente falhas que serão melhor compreendidas com a repetição da mesma, ao longo do tempo, está muito bem cosida e explícita; aquele final permite uma abertura para muito mais, futuramente; e não me poderei esquecer da entrega exímia de Joaquin Phoenix ao seu papel! Houve cenas que me deixaram bastante pensativa e um tanto intrigada, na medida em que me fizeram indagar até que ponto é que a nossa sanidade aguenta as pressões sociais, os acontecimentos políticos, tal como a possibilidade de se aguentar suspensa sobre ela mesma, sem tropeçar pelo abismo das doenças mentais. Que consequências mais sofreríamos, se nos entregássemos, deliberadamente, ao nosso estado de loucura? Aconselho, vivamente, que o vejam enquanto está em cartaz, para que se possam deixar absorver por esta obra magnificamente bem conseguida!
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