PORQUE É QUE, DO NOSSO PONTO DE VISTA, A VIDA DOS OUTROS É MAIS FÁCIL?

Porque as realidades são diferentes e, consoante essa condição, a nossa maneira de lidar com os problemas também se altera. Lá porque a pessoa em questão não exterioriza aquilo que sente, não significa que isso anule a sua existência, apenas demonstra que cada um exerce sobre si a capacidade de lidar ou solucionar os seus problemas de diversos modos. Aliás, não demonstrar a existência ou o incómodo relativo a algo não é sinónimo de despreocupação. 
Uma vez, na fila para a conservatória, um senhor me disse que quando nos colocamos a berrar os nossos problemas, os que nos rodeiam ignoram as nossas dores e preocupações, dado que no olhar delas, não passamos de um produto da exaltação e do exagero; por outro lado, ao decidirmos segredar o que nos vai na alma, essa postura desperta a curiosidade e penso que isso se aplique bastante bem com a ideia que alimentamos acerca dos outros. Todos nós guardamos reservas, todos nós temos problemas. Nenhum de nós está bem a cem porcento. 
Da minha perspectiva, não existe isso da plenitude máxima, um conceito errado e que, cada vez mais, tem vindo a ganhar força devido a alguns influencers e que não se sabem expressar devidamente, nem tão pouco vender aquilo que pretendem. Cada vez mais, temos a ideia de que a perfeição existe e que é possível de se alcançar quando seguimos os passos de quem nos inspira a tal. Muitos, pelo contrário, admitem e reforçam de que as redes sociais são uma farsa e que uma fotografia, dois segundos de um vídeo ou cinco minutos de um podcast não são, nem nunca serão, suficientes para cobrir todo o repertório da pessoa, do ser humano, que produz aquela situação. 
Não sei a partir de que momento é que se deu esta explosão regressiva da
nossa espécie, mas que é errado alimentarmos toda esta charada acerca
da facilidade que circunda a vida dos demais e que os conduz a onde
conduz, lá isso é. Debati, também, isto com uma amiga. A minha resposta
foi a de que por termos mais contacto direto com os resultados, a nossa
mente interpreta aquilo como uma facilidade especificada para aquele
indivíduo, o que torna toda a nossa luta interna num processo mais
complicado do que aquilo que realmente é. 
 
Chega mesmo a ser injusto nos cobrarmos tanto por um fator que não podemos controlar, somente porque nos implantaram na medula de que existe todo um conjunto de regras que todos devemos seguir, se desejarmos, de corpo e alma, nos assemelharmos uns aos outros. É injusto perpetuarmos a ideia de que apenas uma função na vida nos é concedida, quando na verdade, podemos ser e ter tudo aquilo que quisermos, desde que isso não fira susceptibilidades alheias. É injusto porque, interiormente, nos condicionamos, nos maltratamos e nos comparamos sem limites, personificando um medo irracional e uma agonia mal direcionada. 
É de um masoquismo imenso contemplarmos a vida do vizinho e querermos absorver todos os detalhes de uma existência que não se assemelha à nossa, como um todo, numa tentativa desenfreada de a simularmos em nós, perdendo contacto com a nossa verdadeira essência, isto se, em algum momento, nos esforçámos para a compreender devidamente. Farto-me de reforçar de que eu não sou exemplo para ninguém. Tem vindo a fazer parte do meu processo de crescimento confrontar estas dúvidas e torná-las num motivo de conversação, seja aqui, mais publicamente, ou numa conversa de café, com alguém da minha confiança. 
O que ainda me choca, embora não devesse fazer parte das minhas inquietações – não obstante o efeito que isso, por vezes, tem em mim, quando certas atitudes me cobram uma postura que não é, de todo, minha -, é o facto de nem toda a gente se abrir a este tipo de experiências, o de pensar com consciência, sem receio de abraçar uma solução viável, sem receio de esbarrar com a realidade. No fundo, o uso que damos à ideia da facilitação não passa de um refúgio, um escape das nossas convivências, e é realmente uma pena quando não há limites. Infelizmente, há quem se questione, somente, para se sair melhor do que os outros, pisando quem quer que seja que lhes atravesse no caminho.

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