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“O mundo reduziu-se à superfície da sua pele, e o interior ficou a salvo de qualquer amargura. Doeu-lhe não ter tido aquela revelação muitos anos antes, quando ainda tivesse sido possível purificar as recordações, reconstruir o universo a uma nova luz, evocar sem estremecer o perfume a alfazema de Pietro Crespi ao entardecer, e resgatar Rebeca do seu refogado de miséria, não por ódio nem por amor, mas pela compreensão desmesurada da solidão. O ódio que sentiu certa noite nas palavras de Meme, não a comoveu porque a afectasse, mas porque se sentiu repetida noutra adolescência que parecia tão limpa como a sua deve ter parecido e que, no entanto, já estava viciada pelo rancor. Mas então já estava tão conformada com o seu destino que nem sequer a inquietou a certeza de que se tinham fechado todas as possibilidades de rectificação. O seu único objectivo foi terminar a mortalha” – p. 223, in “Cem anos de solidão“, Gabriel García Márquez (WOOK | BERTRAND)
“Porque só se é homem assumindo tudo o que fale em nós. Chico pensa na utilidade «prática». Mas, se através dos tempos o homem pensasse apenas na utilidade prática, hoje não seria um homem, seria um parafuso.” – p. 190, in “aparição“, Vergílio Ferreira (WOOK | BERTRAND)
“Só as coisas sagradas merecem que se lhes ponha a mão, Dorian (…) Quando se está apaixonado, é sempre pela própria desilusão que se começa e pela desilusão dos outros que se acaba. É a isso que o mundo chama um romance” – p.57, in “O retrato de Dorian Gray“, Oscar Wilde (WOOK | BERTRAND | BOOK DEPOSITORY)
“Menos a questão da morte, senhor, se não voltarmos a morrer não temos futuro” – p.95, in “as intermitências da morte“, José Saramago (WOOK | BERTRAND)
“Seria ele a minha casa e, posteriormente, o meu regresso a ela? Tu és o meu regresso a casa. Quando estou contigo e nos juntamos, não há nada mais que eu possa querer. Tu fazes-me ser aquilo que eu sou, a pessoa em que me torno quando estou contigo, Oliver. Se há alguma verdade no mundo, ela existe quando estou contigo e, se em alguma dia, eu ganhar a coragem para te falar a minha verdade, relembra-me de acender uma vela no dia de Ação de Graças em todos os altares de Roma.” – (tradução livre) p.49, in “Call me by your name“, André Aciman (WOOK | BERTRAND | BOOK DEPOSITORY)
“Olha só para o teu estado. Olha para a imundice que te cobre o corpo. Olha a sujidade entre os teus dedos dos pés. Repara nessa nojenta ferida infectada na perna. Sabes que cheiras mal como um bode? Olha como estás magro. Podia partir-te o pescoço como se fosse uma cenoura. Até o cabelo te está a cair às mãos-cheias. Olha! Abre a boca. Restam nove, dez, onze dentes. Estás a apodrecer. Estás a cair aos bocados. Que é que tu és? Um monte de lixo. Vês essa coisa aí à tua frente? É o último homem. Se tu és um homem, então é isso a humanidade.” – p.274, in “1984“, George Orwell (WOOK | BERTRAND | BOOK DEPOSITORY)
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2 Comments
Andreia Morais
18 de Julho, 2019 at 20:24É mesmo importante valorizar o nosso ritmo de leitura, sem nos deixarmos influenciar pelo dos demais. Porque o nosso contexto é sempre diferente e, consequentemente, o tempo que temos disponível também. Antes de qualquer número, é fundamental dedicarmo-nos à leitura por prazer. Sem pressas e sem pressões.
Quero muito ler "Cem Anos de Solidão" e "As Intermitências da Morte"
Leonor
23 de Julho, 2019 at 18:45nunca li nenhum desta incrivel lista – my bad – mas gostei da tua reflexao acerca da visao qualitativa ao inves da quantitativa, muito interessante!
im baaaack!