O fenómeno mundial, finalmente, deu as suas graças cá por casa. Na verdade, terminei todas as temporadas já há algum tempo, mas acabei por adiar a conversa acerca dela. “Black Mirror”, do conhecimento universal, foi uma série à qual dediquei tempo e espaço. Quem a conhece de gingeira, reconhece o peso que a mesma acarreta, daí ser da nossa total responsabilidade determinar se queremos, ou não, sofrer doses de impacto de uma só vez, ou se as parcelamos como qualquer ser digno de consciência e amor-próprio faria. Pela minha conversa, já devem ter topado a minha inclinação para as poupanças, visto que carrego em mim uma mente forte e, em simultâneo, enfraquecida para certos assuntos.
Não se trata de um terror, mas está lá próximo. No ano passado , determinei que “Black Mirror” haveria de ser uma das séries que me faria companhia, mas mal sabia eu de que ela teria uma quarta temporada com alguns ajustes. Visto serem independentes, manejei os episódios como bem me apeteceu, matando a curiosidade em relação aos mais pesados, já na reta final… E ainda bem! Saber que na altura eu não teria o estômago para aguentar tamanhas abordagens, deixou-me de cabeça tranquila e os vómitos para outra ocasião. Pode apenas ser uma simples sátira do mundo em que vivemos, contudo, tal como podemos ler em “Admirável Mundo Novo” , a nossa realidade já esteve bem mais longe de abraçar as “sugestões” daqueles que continuam na incessante representação de factos alternativos para a convivência humana.
É verdade de que já estivemos mais longe de ocupar o nosso tempo com o acesso às redes sociais com a ajuda de um clique, mas tem-se tornado cada vez mais inegável a separação de que temos vindo a ser vítimas enquanto seres sociais. Sem pedir muito, estamo-nos a tornar em pessoas mais egoístas, mais desconectadas, menos interessadas com aquilo que se vai desenrolando à nossa volta, prescindindo de certos privilégios em prol de um exercício muito famoso, nos dias de hoje, ao qual se chama ter a cabeça constantemente inclinada e os dedos a patinarem na superfície de um ecrã.
Confesso que, por vezes, também eu adiro a este tipo de exercícios, mas assim que tomo consciência daquilo que estou a fazer, troco os fusíveis e me dedico a outras coisas mais estimulantes ao cérebro. Grande apreciadora das artes literárias, dos convívios, do contacto humano, faz-me um bocado de espécie detetar este fenómeno em todas as esquinas de uma possível paisagem, sem poder interferir muito. O mais engraçado foi poder observar a conversão de certas pessoas que, outrora, eram completamente contra aos vícios de hoje em dia, sendo que atualmente fazem igual ou pior do que os repreendidos.
Para aqueles que ainda estão à nora, deixem-me que vos explique de forma sucinta: “Black Mirror” é um reflexo mais aprimorado dos tempos tecnológicos que nos abarcam, explorando temas que jamais passariam pela cabeça de certos indivíduos. Acredito que muitos se tenham sensibilizado ao ponto de repensarem as suas ações, enquanto que a outros lhes deva ter subido a inspiração de fazer mais e pior. Quanto a mim, senti-me influenciada pela positiva, tendo ganho mais consciência em relação aos meus atos. E é por razões como esta que eu admiro cada vez mais certos trabalhos artísticos e que visam num alerta “suave”, que se vai infiltrando no quotidiano das pessoas, de modo a despertá-las de determinados transes. Se em pleno 2018 ainda não lhe deram uma vista de olhos, não vejo porque ainda estão à espera!
Já viram esta série? Quais as vossas impressões?
1 Comment
Inês Matos
6 de Março, 2018 at 12:38Ainda não vi a 4ª temporada (só o primeiro episódio da mesma). Mas, quando Black Mirror me foi recomendada por colegas de faculdade e até professores, sabia que teria que olhar para ela com um espírito crítico apurado e como forma de alerta…Numa das minhas primeiras cadeiras da faculdade falámos de determinismo tecnológico e no facto de que as novas tecnologias, em si, não são más, o uso que fazemos delas, em particular ou como coletivo, é que pode ser negativo. Deste modo, acredito que Black Mirror sirva para dar esse exemplo e para provar ao mundo, com recurso à sátira, de que não estamos longe de nos tornar nos indivíduos que julgamos na série. É uma das séries que mais gostei de ver.