Eis uma questão que sempre me acompanhou, mesmo após estes anos todos. Na altura em que seguia o Justin Bieber, aos poucos fui ganhando a consciência de que à medida em que eu ia investindo no amor que sentia por ele, muitas questões na minha vida ficavam para trás, tornando a sua adoração num objeto prioritário. Encarava-o como alguém muito superior, dono do meu mundo, na altura, fantasiando com tudo e mais alguma coisa, talvez menos do que muitas fãs, visto que o ódio que se gera contra determinada celebridade e que, do nosso desagrado, mantém relações com o nosso ídolo, é uma resposta à desumanização que automaticamente cresce dentro de nós, para com determinada figura pública.
Aos olhos de alguns, os famosos não passam de pessoas fúteis, alvos perfeitos para as nossas frustrações, seres criados pela indústria e para fazer dinheiro. Não nego que tais circunstâncias possam ocorrer, contudo, é completamente falacioso defender um argumento que diga que os famosos não merecem o devido respeito por 1) De qualquer das maneiras, não se darão conta de uma mensagem negativa, num mar de elogios; 2) Ele/a já tem a vida feita, que se lixe o que pense do mundo. Isto não só acontece com figuras públicas, como também no nosso quotidiano. Quantas vezes já não julgámos alguém, apenas por aparentar ser de um estatuto superior do que o nosso, invejando-lhe a categoria e associando-a a uma personalidade que, quiçá, não corresponde com a realidade? Muitas, suponho, e não há mal algum em admitirmos que, pelo menos uma vez, isto nos tenha acontecido.
O documentário da Demi fez-me relembrar inúmeras situações de que já fui testemunha, uma delas a de ignorar por completo o que é que habita no pensamento de alguém, quando o seu trabalho é o de entreter, supostamente, sempre de sorriso no rosto. Porque se a pessoa se apresentar em frente das câmaras com cara de poucos amigos e der uma resposta torta, é porque não passa de um ser arrogante e sem educação. Porque um/a famoso/a não tem vida própria, não tem problemas, não tem sentimentos, nem tampouco coração. O quê, desde quando?
É, sem dúvida alguma, bastante lamentável quando nos deparamos com as críticas que uma população tece em relação a alguém conhecido, com base nas informações soltas e incongruentes que encontram por aí, sem se dignarem a pesquisar se se trata de uma informação fidedigna. Quantas e quantas pessoas já não tentaram beneficiar do estatuto dos famosos, charlatando uma quantia que se lhes pareça favorável, dando forma a histórias e tramas, apenas para prejudicarem a outra pessoa em questão? Existe um abuso de liberdade nestas duas partes, sendo que por vezes se assemelha àquela conversa de “O cliente tem sempre razão”, sendo a clientela a base de fãs e haters de determinada celebridade.
Pela parte que me toca, acho estúpida, insensível e desnecessária as associações que são estabelecidas, segundo uma coleção de dores de cotovelos que alguns de nós vão guardando, e que para aliviar, necessitam de explodir para tudo quanto é lado. O problema, dentre muitos, é que enquanto este tipo de ações não cessarem, os famosos continuarão a ser alvos de chacota, sem terem a oportunidade de se defenderem, pois, “devem manter uma postura simpática e educada para com o público”, comendo e calando, como se nada fosse. É estúpido, mas infelizmente, trata-se da sociedade em que vivemos.
Publicação inserida no projeto #MOVIE36. A criadora, Carolayne Ramos, do blogue “IMPERIUM“. A parceira oficial é a Sofia Costa Lima, do blogue “A Sofia World” As participantes: Inês Vivas, “VIVUS ” | Vanessa Moreira, “Make It Flower ” | Joana Almeida, “Twice Joaninha” | Joana Sousa, “Jiji ” | Alice Ramires, “Senta-te e Respira ” | Cherry, “Life of Cherry ” | Sónia Pinto, “By The Library ” | Francisca Gonçalves, “Francisca ” | Inês Pinto, “Wallflower ” | Carina Tomaz, “Discolored Winter ” | Sofia Ferreira, “Por onde anda a Sofia ” | Rosana Vieira, “Automatic Destiny ” | Abby, “Simplicity ” | Sofia, “Ensaio Sobre o Desassossego “
5 Comments
Francisca Gonçalves
12 de Janeiro, 2018 at 17:39Lyne, tiro-te o chapéu por este artigo! Identifiquei-me bastante com o que dizes pois, no início da minha adolescência, também passei por uma fase de enorme fanatismo pela banda One Direction e senti esse mesmo ódio pelas pessoas que com eles conviviam. A questão é que fui deixando essa "obsessão" que tinha e fui refletindo sobre o que é realmente uma celebridade. Num post do meu blogue, "O lado escuro da fama", refiro precisamente isso. As pessoas famosas são pessoas normais com profissões anormais, isto é, têm direito a uma vida tal como eu tenho direito a uma vida e tal como todos temos. Muitos parabéns por este post, Lyne. Mesmo!Beijinho grande.http://apenasfrancisca.blogspot.pt
Joaninha
15 de Janeiro, 2018 at 15:55Eu sei que também pode soar como desvalorização da arte criada por tão boa gente, mas, precisamente pelas razões que apontas é que gosto de apreciar a arte e simplesmente isso. As pessoas perguntam-me: «Ah e viste-o com a família? E sabes o passado dele? Tens noção do que fez este fim-de-semana?» Não quero saber estas coisas. Sim, gosto de pesquisar o que motivou a música, o quadro, o filme, porém, não é o mais importante, mas sim o som, as figuras e a mensagem… Por causa do que defendes: não podemos impedi-los de ter uma vida, de a viver e não nos podemos, especialmente, esquecer que eles são alguém bem antes de serem artistas!
IMPERIUM
31 de Janeiro, 2018 at 17:23Muito obrigada! Folgo em saber que valeu a pena refletir acerca deste assunto!Beijinhos!
IMPERIUM
31 de Janeiro, 2018 at 17:25Exatamente! Concordo plenamente contigo: a vida pessoal dos artistas pouco me importa, desde que estejam de saúde! Tudo o resto tem que ver com a arte que produzem! Isso sim é que devemos ter em conta!
Joana Sousa
1 de Fevereiro, 2018 at 9:22A tua sinceridade é qualquer coisa, mulher. Confesso que sempre me passou um bocado ao lado todo esse lado do histerismo, e portanto sempre consegui manter uma certa distância – ou indiferença, até – de todos os contos e ditos sobre a vida dos famosos, o que provavelmente me foi facilitando o trabalho de não lhes cobrar nada que não permitisse que me cobrassem a mim – afinal, somos todos humanos! No entanto, tens toda a razão: até nós, no nosso dia-a-dia, sentimos essa pressão para termos que estar sempre de boa cara, o que torna a vida bem mais complicada do que era necessário.<a href=http://jiji.pt>Jiji</a>