O curso de Arquitetura não é para todos. Aliás, a faculdade em si não é para toda a gente. Há quem já nasça inclinado para tal, chegando ao momento certo de o fazer, dedicando-se, especificamente, a uma área. Por outro lado, existem aqueles que preferem depositar as suas energias em outras experiências que, a meu ver, não tem nada de errado nisso. Só porque A faz uma coisa, não quer dizer que B e C o façam também. Cada um é livre de fazer as suas escolhas. Contudo, como estava a dizer, e tendo em conta que esta publicação é acerca do curso que estou a fazer, repito: Arquitetura não é para qualquer um. A frase “Tens de dar tudo de ti” começa a fazer sentido quando, literalmente, a cada projeto, tens de puxar pela imaginação, arranjar forças do além, deixares-te inspirar por tudo e todos, e acima de tudo, seres tu mesmo, fiel aos teus encantos.
Quando as pessoas tentam argumentar de que nós não fazemos nada e que, ao contrário delas, não temos de marrar, isso está completamente errado. Dependendo das cadeiras e dos professores que as leccionam, há métodos que se diversificam, daí existirem inúmeras maneiras de avaliação. Há professores que preferem a receção de trabalho ao invés de frequências, outros que mesclam estas duas e ainda aqueles que arranjam sempre maneira de dar nota aos seus alunos. Afirmarem que no curso de Arquitetura não se estuda é completamente errado porque 1) como é que é possível percebermos as partes físicas de uma estrutura, assim como tantos outros assuntos de construção, se não estudamos?; 2) vocês acham mesmo que a nossa inspiração para elaborar maquetas e desenhar vem, somente, de nós e do pouco que sabemos sem estudo? Com isto, preciso responder: nós temos de estudar SIM, assim como qualquer outro estudante académico. Os cursos, felizmente, é que exigem cuidados diferentes, e de acordo com a finalidade do curso.
O Mestrado Integrado em Arquitetura tem a duração de cinco anos, sendo que a cada ano, algumas cadeiras permanecem, mas em níveis diferentes, e outras vão diferindo e sendo substituídas. Neste meu primeiro ano, tive um total de dez cadeiras, sendo que apenas três subiram um nível no segundo semestre.
LABORATÓRIO DE ARQUITETURA I e II (aka Projeto) Esta é, de longe, a cadeira com mais créditos, logo, a mais trabalhosa. É aqui onde aprendemos a desenvolver o nosso lado prático e criativo no que toca a projetos, elaborando as famosas maquetas, plantas, cortes e alçados. São-nos passadas informações relativamente aos projetos de cada mês – ou de dois em dois meses. Mas normalmente são sempre dois projetos por semestre -, existindo, sem falta, visitas aos nossos locais de trabalho, ou seja, os terrenos que nos são propostos e sobre os quais deveremos elaborar o nosso projeto que, após longas semanas de ideias para cá, ideias para lá, conversas com o professor, exposição e trocas de ideias com os colegas, etc., é avaliado segundo os critérios do professor, nomeadamente o tipo de escala para cada desenho e maqueta, assim como que tipos de desenho – plantas, cortes, alçados -, e elementos que corroborem com as nossas propostas, e por aí adiante. E de todas as cadeiras, porquê a mais cansativa? Porque é aquela que exige mais tempo e dedicação da nossa parte, daí serem nove horas semanais – em tempo de aula -, e os extra em casa, para que possamos desenvolver as nossas propostas em condições. É para esta cadeira que convém dispor de uma grande carga de linguagem estrutural, informações, imagens, inspirações, muitas horas de estudo de como se fazer uma escada, ou mesmo o traço ideal para uma porta, e tudo aquilo que possam imaginar que faça parte de um projeto arquitetónico.
DESENHO e DESENHO ARQUITETÓNICO Ambas partilham do mesmo conceito: fazer com que os alunos desenvolvam a sensibilidade para encararem o objeto que desejam transferir para o papel, de modo a que o mesmo seja perceptível para os mais leigos, refletindo o nosso desejo bidimensional, tridimensional e perspectivo. Não há muito que se possa declarar acerca desta cadeira, afinal, todos nós sabemos desenhar, o segredo está no praticarmos todos os dias, sem medos nem receios de errar, porque a cada erro, aprendemos a fazer melhor, chegando a um ponto em que deixamos de duvidar das nossas capacidades enquanto artistas e pessoas. Colocamos em prática diversas representações com diversos materiais, explorando as linhas, as cores, as manchas, assim como a imaginação e criatividade. Não pensem que só por parecer simples, o é, porque tal como qualquer outra cadeira, Desenho exige muito trabalho e dedicação, para que, a cada dia, desenvolvamos o nosso próprio traço e maneira de encarar a vida em geral.
GEOMETRIA DESCRITIVA E CONCEPTUAL I e II Quem me conhece bem, sabe que eu era a louca da Geometria no secundário. Assim que soube que a teria na faculdade, delirei de felicidade, afinal, iria para um curso onde a minha percepção de geometria ganharia uma outra essência. Acontece que, apesar dos esforços que poderia ter feito para ser ainda mais bem-sucedida como havia hábito, a minha experiência neste ano não foi como eu esperava. Felizmente, foi só este ano, mas basicamente, nesta cadeira, aprimoramos o que sabemos da geometria que nos foi apresentada no passado, caminhando por outros patamares acerca da matéria. São-nos expostos outras áreas da geometria, nomeadamente a perspetiva e as projeções cotadas. As perspetivas relacionam-se com os diversos pontos de fuga existentes em nossos redor, assim como a quarta dimensão dos objetos – neste caso, o tempo -, e as projeções cotadas levam-nos a entender como é que as plantas, por exemplo, são desenhadas, de modo a refletirem uma ideia a alguém que estude o assunto, assim como o segredo por detrás das curvas de nível (linhas representativas da altura em que está uma zona em específica do solo, objeto, etc.), e tantas outras representações relacionadas com este conceito.
COMPLEMENTOS DA MATEMÁTICA E DA ESTATÍSTICA Conhecida como o cadeirão daquela faculdade, e à qual passei logo à primeira, aqui aprendemos os conceitos básicos da estatística, tais como a média, moda, mediana – mas de maneira um pouco mais profunda do que o normal, é claro! -, tal como matérias da matemática e que, se vieram de Ciências e das Artes com direito a Matemática B, ser-vos-á muito mais fácil de apanhar, visto que gramaram com elas por dois/três anos, e os professores apenas têm três meses para compilarem toda esta informação. São nos expostas ideias de trigonometria, vetores, etc., e para vos ser sincera, ainda estou para descobrir como é que isto nos ajuda em Arquttetura. É óbvio que esta cadeira serviu de apoio para uma outra que eu terei no segundo ou terceiro ano, mas ainda assim choca um bocado estudares para uma coisa, sem saberes como é que te será útil no futuro. Assim que tiver a resposta, partilho com todo o gosto!
CULTURA DA ARQUITETURA E DA CIDADE Se há cadeira que me emocionou no semestre passado, foi esta, com certeza! Tudo começa no professor, uma pessoa extremamente inteligente, engraçada e genial, e que tinha uma maneira particular de nos passar a informação. Para não falar de que se via a léguas que ele gostava imenso daquilo que leccionava. Aqui, temos direito a conhecer parte da história da origem da arquitetura, como é que a podemos definir e de que maneira é que a podemos representar. São-nos expostas diversas histórias de como é que as coisas se foram desenrolando, desde os anos antes de Cristo, até aos dias correntes, assim como a importância da Arquitetura na nossa vida. Foram-nos propostas, algumas vezes, a elaboração de comentários acerca de livros ou textos que o professor indicava, algo que nos ajudou bastante para a frequência, visto que a partir dessas sínteses, estudávamos e não sabíamos. Foram semanas bastante ricas e que me abriram a mente para novos conceitos e formas de observar o que afinal é a arquitetura.
HISTÓRIA DA ARTE CONTEMPORÂNEA Sem nunca desapontar o supra-sumo do curso, e ao contrário da CAC, em História da Arte Contemporânea, entrámos mais para a questão das obras da Arte em geral, explorando-as nos trabalhos que tivemos de desenvolver, em substituição da frequência. Foram feitas, muitas vezes, a analogia entre as obras e a arquitetura, e de que maneira é que estas se influenciavam. Apesar de tudo, foram três meses a respirar a história da arte, como seu nome manda, e a acrescentar mais informações à nossa bagagem.
MATERIAIS Vai parecer loucura para alguns, mas eu adorei esta cadeira. Curiosa como sou, foi deveras fascinante ser exposta a um aglomerado de informações acerca das composições dos materiais que definem uma construção arquitetónica, assim como a maneira como os mesmos são fabricados, e de que maneira é que deverão ser aplicados, não retirando o valor arquitetónico de um edifício. Confesso de que estava à espera de mais na frequência, mas também não me posso esquecer de que não me dediquei mais cedo aos estudos porque literalmente não fiz por isso. contudo, a partir do ano que vem, teremos uma continuação desta cadeira, e que pegará em aspetos ainda mais técnicos! Mal posso esperar para 1) descobrir ainda mais!; 2) aprender com os erros e fazer as coisas de uma outra maneira, de modo a ter sucesso!
Brevemente, partilharei convosco como foi a minha experiência pessoal na faculdade! Espero que tenham gostado das informações que vos trouxe e, em caso de dúvidas, não hesitem em perguntar!
3 Comments
Cherry
22 de Junho, 2017 at 18:37Gostei muito de ler sobre o teu curso e as tuas cadeiras de 1° ano :). Adoro este tipo de posts, porque permite -nos conhecer mais a fundo cada curso, e são muito úteis para quem se vai candidatar à Universidade.
Ao contrário de muitas pessoas, não acho que Arquitetura seja fácil, muito pelo contrário, pelo que já vi de amigos meus que andam nesse curso, é muito difícil. E depois de ler o teu post, ainda ganhei mais respeito pelo teu curso. Nota-se que é muito trabalhoso, que é preciso muita dedicação e nem toda a gente tem cabeça para isso. Mas tu tens talento e tenho a certeza que serás muito bem sucedida :).
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Lalaland Blog
22 de Junho, 2017 at 22:09Apesar de Arquitetura não ser (de todo!) o curso que pretendo seguir, gostei bastante do post, pois permitiu que conhecesse um pouco de um curso que, para mim, era desconhecido.
Beijinhos,
La La Land
JU VIBES
24 de Junho, 2017 at 21:52Consigo rever-me num curso assim! (:
Aliás, se tivesse seguido artes no secundário arquitectura era uma possibilidade.