Estão a ver aquela frase “um amigo de verdade é aquele que te vai ajudar a levantar depois de uma queda na rua, mas que antes se ri?” – ou algo do género? Sou dessas. Absurdo ou não, índice de pseudo-falsidade, a verdade é que eu sou coração de ouro para as minhas pessoas, ajudando-as a ultrapassarem mil e uma batalhas, mas antes de qualquer coisa, eu primeiro faço-lhes uma palestra das mil e trezentas coisas que elas fizeram de errado para estarem naquela situação, e só depois lhes dou um abraço e lhes digo para chorarem no meu ombro. Posso correr riscos de me afogar nas suas lágrimas, mas sou o tipo de amiga que está disposta a chorar com a pessoa se a vir a ultrapassar um momento complicado. Como é óbvio, eu sei medir as situações. Existem ocasiões que a melhor coisa que eu posso fazer enquanto amiga é estar ali presente, mas existem outras completamente diferentes que puxam pelo meu lado mãe-amiga-inimiga-Platão-bicho do mato-chateada-revoltada-dois-mil.
Para terem noção, houve uma vez em que um amigo meu estava com problemas amorosos – e quem me conhece sabe que eu não suporto ver pessoas a sofrerem por amor – e por muito que eu o aconselhasse e ele anuísse de que teria em consideração os meus conselhos, chegava a uma certa altura em que o cérebro dele fazia o click! e os erros continuavam a ser os mesmos. Quando, pela vigésima vez, ele abordou-me cá em casa com os mesmos desabafos, chegando até a gastar-me 1,40€ de saldo por tentar ligar à paixão (e os quais ainda aguardo, muito pacientemente, pela devolução), eu juro-vos que um espírito pugilista apoderou-se do meu corpo e eu atirei com borrachas, desodorizantes, palmadas e almofadas para cima do moço… E eu confesso que eu por dentro me ria, enquanto pregava ao rapaz as verdades que ele precisava de ouvir para ver se atinava e escolhia o melhor para si mesmo. Ele contorcia-se todo, a rir-se de mim (e dele mesmo, não é todos os dias que a pessoa mais calma que conhecem, vos dá porrada com tanta fé), a implorar que eu parasse e lhe prestasse atenção… Lá fiz uma sessão de exorcismo interior e expulsei o belzebu do corpo, prestando atenção ao rapaz… Acreditem ou não, mas aquele método resultou. Ele lá se entendeu com ele mesmo e, atualmente, está feliz com a sua vida amorosa (e por muito que ele insista que tem saudades da minha pessoa, eu sei que ele deve ter ficado com medo de correr atrás do perigo). Por vezes, é necessário adotarmos uma postura completamente desconhecida para que as pessoas nos oiçam devidamente.
Quem tem os seus amigos, bem sabe o quão complicado é ter de lidar com diversas personalidades e conciliá-las com a nossa maneira de ser, mas quando é algo verdadeiro, não existe nada capaz de separar duas ou um grupo de pessoas, mesmo que tenham de levar com o vosso modo Santo António. Quando eu digo que “ter-me como amiga é ter de levar com as piores verdades” eu falo a sério. Podem contar com as minhas concordâncias, com os meus abraços, com a minha comida… Podem rir-se comigo das piores piadas, mostrar-me terem o estofo para me aturar, aconselhar-me dos melhores livros, filmes e séries do universo… Se me tiverem ao vosso lado, podem ter a certeza! de que eu batalharei para continuar por lá, mas se eu vir que vocês estão a ir pelo caminho errado, eu puxo-vos até mim, afasto as inimigas, arregaço as mangas e encho-vos o rabinho de chineladas, principalmente se a vossa escolha divergir dos conselhos que vos dei e que vocês pediram! Como amiga, eu não admito que chorem pelos erros dos outros, não admito que queiram desistir da vossa vida pelos outros, não admito que se culpem pelo desprezo dos outros! Embora vos prometa muita tortura psicológica, eu estarei sempre ao vosso lado para vos ajudar a amarem-se a vocês mesmos! Ter-me como amiga é terem de ouvir as piores verdades, é terem os meus abraços, é terem o meu carinho, é terem de me aturar com as hormonas descontroladas, é saberem lidar com os meus momentos de poeta nas horas mais improváveis, é terem-me ali para vocês! Mas sobretudo, ter-me como amiga, é poderem chamar-me de família!
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