Costumo gabar-me da minha memória. As matérias da escola são apenas umas das evidências de que, quando eu faço por isso, dificilmente me esqueço de uma informação importante, capturando até aquelas que passam despercebidas. Recordação vai, recordação vem, e por vezes sinto-me traída pelas lembranças desencadeadas a partir de pequenas coisas à minha volta. Seja o meu primo de cinco anos, as animações que a televisão transmite, um movimento involuntário do meu corpo e que me transporta para outra dimensão temporal. E hoje, num feriado, tive direito àquele pequeno gosto de recordação eminente numa pequena parte do cérebro. Não que me tenha atirado para fora da cama e corrido com uma manta na cabeça, enquanto é arrastada pelo chão, e tenha voado para o sofá, bebendo da fonte das animações. Aliás, acordei e fiquei-me pela cama a ler as informações que as tecnologias tinham para me dar. Assim que saí do quarto e passei pela sala, tive de recuar e ver qual o nome do boneco que estava a passar na SIC. Era o Gangue do Parque, mas na verdade não foi isso que me estava predestinado a saber. Andei para trás nas emissões do dia de hoje e fui parar ao primeiro programa do dia destinado às crianças… E as horas a que passavam deram-me que pensar… “Mas quem é a criança que se levanta às 6h da manhã para assistir a bonecos animados?” – foi a primeira questão estabelecida pelo meu lado adulto – “Não te esqueças de que já foste criança…” – interferiu o meu lado infantil, o passado que ainda me pertence. E ele tem razão! Eu já fui criança e sei perfeitamente o que é reger-me pelo entusiasmo de um sábado de manhã e colar-me no sofá para não perder nada… Do pequeno-almoço que me acompanhava, do conforto no qual me aconchegava, das risadas de uma criança inocente e que, mesmo assim, sabia valorizar aquilo que tinha no momento…
Hoje não está apenas a ser o dia da liberdade… Hoje foi o dia em que assentei as ideias e recordei, com um pingo de nostalgia e uma vez mais, o tempo em que eu era criança e degustava de cada sessão de cinema que a televisão tinha o cuidado de trazer para mim… E não há nada que me faça querer evoluir mais do que a criança que ainda vive em mim.
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