Book Review \ Diário de uma obsessão

Título original: The Book of You
Autor: Claire Kendal
Editora: Edições Saída de Emergência
Páginas: 291
ISBN: 978-989-637-668-0

Imaginem a vossa vida. Vocês não passam de pessoas normais, com um emprego, com amigos. Têm as vossas rotinas, estão a construir o vosso próprio império, a garantirem que morrerão realizados. E do nada, tudo desaparece. Tudo transforma-se num buraco tão negro que a única solução para se protegerem a vocês e aos vossos é isolando-se do mundo… Tudo porque cometeram um erro que poderia ter sido evitado… Tudo porque se meteram com a pessoa errada…
Assim que pus os olhos neste livro, senti que o deveria comprar. Não foi a capa que me chamou a atenção (porque na verdade não é nada de especial)… Foi o título… Diário de uma obsessão… Na minha cabeça, este livro não passava de um diário de alguém cujo único objetivo de vida era apontar tudo o que essa pessoa sabia de outra. E eu estava (e estou) numa de entrar no mundo dos thrillers que andam por aí. Mas é algo completamente diferente. Este livro é do ponto de vista da pessoa que é perseguida, que é obrigada a abandonar a própria vida para se proteger.
Mais do que o habitual, eu levei quase duas semanas para ler este livro. Não por não ter correspondido com as minhas expectativas, nem tão pouco por ser secante. Este livro leva tempo a processar. É algo que temos de ter muito cuidado a mastigar para que seja fácil de engolir. Para começar, quando nos colocamos no lugar da personagem principal, Clarissa, já desde aí que as coisas começam a ficar complicadas para o nosso lado. Ter de idealizar o seu dia-a-dia, enquanto nega a pessoa que a persegue, enquanto essa pessoa insiste cada vez mais, é sufocante! Eu parava a meio da leitura, a tentar imaginar como seria para mim deixar de ter privacidade, livre arbítrio, amigos… Ter de abdicar das coisas que eu gosto de fazer, verificar quinhentas vezes a rua principal para ter a certeza de que a pessoa não estava lá (o que é impossível, pois o perseguidor estava sempre lá), recear a minha própria sombra! Ao fim de um tempo a magicar estas coisas na minha cabeça, eu só sentia vontade de chorar por esta personagem e por mim.
Se para nós enquanto seres humanos é complicado ter de lidar com alguém que mexe numa caneta nossa, ou que roça em nós sem se dar conta, então tripliquem isso vezes vocês não saberem tanto da vossa vida como o perseguidor sabe… É horrível! É asfixiante, é de querer cortar os pulsos e nem considerar o facto de pedirmos ajuda!
Algo que me afligia sempre era aquela esperança que eu mantinha guardada de que a Clarissa desabafasse com alguém o seu problema, mas ela nunca chegou a fazê-lo, até ao dia em que a sua única vizinha a havia alertado, após prendas e cartas e tudo o mais serem entregues para a Clarissa (e neste momento eu estou paralisada sem saber o que escrever porque é muita coisa para processar).
Para quem já leu Gone Girl (review aqui) e nunca leu este livro, digo-vos já que nada têm a ver um com o outro, embora haja uma frase que insinue parecenças e semelhanças na capa do livro. Podem ser ambos thrillers, mas a história de Gone Girl diverge bastante em comparação com Diário de uma Obsessão… Em suma, Gone Girl relata-nos um desaparecimento de Amy, cujo principal suspeito para tal é o seu marido. Aqui sabemos que ambos se amaram um dia, que decidiram casar e que ao fim de um tempo, as coisas foram saindo do lugar. Em Diário de uma Obsessão existe uma coisa que se chama assédio. Rafe (o perseguidor) não sabe como processar a palavra não seja de quem for. Mesmo que ele seja rejeitado, ele infiltra-se de tal maneira na vida de Clarissa, que mesmo que ela se imponha a não roçar o pensamento nele, ele está sempre lá. Mesmo longe, imerso nas sombras e nos esconderijos, ele consegue arruinar a vida dela. Como podem ver, nada que sirva de comparação.

Página 83

Página 85

Página 87

Eu decidi marcar algumas páginas para vos poder mostrar o quão assustador é a narrativa deste livro (no bom sentido, é claro), e como podem verificar, a diferença entre estas três imagens é mínima. Mesmo que o leitor julgue ter-se livrado da obsessão de Rafe, as coisas descambam ainda mais! Aliás, se eu tivesse de colocar um dispensador por cada parágrafo que eu achasse digno de comprovação que este livro é um autêntico terror para a vida das pessoas, eu teria o livro cheio de papelinhos e anotações. 

Página 92, aonde percebemos o porquê do título do livro

Acerca do livro em si, eu não posso dizer muito, pois estaria a revelar muitos pontos fulcrais que arruinariam a história por completo, mas acrescentando àquilo que eu já disse, este livro ensinou-me muitas coisas. Ensinou-me que não nos devemos deixar enganar por qualquer um. Aprendi que, por mais expostos que possamos vir a estar em certas situações, por mais desgostos que possamos dar a alguém por termos cometido um erro, nós nunca devemos ter medo de pedir ajuda, pois pode-se tornar tarde de mais para nós e para aqueles que se acham no direito de sugarem a nossa vida a cada segundo. Assimilei também que devemos aprender a dizer não àqueles que se mostrem perigosos para nossa vida. Nunca é tarde de mais para darmos a volta a uma situação e voltar ao nosso buraco seguro. 
Gillian Flynn mexeu com a minha mente. Uma ânsia enorme fixou-se em mim para eu dar continuidade à leitura das obras dela. Mas se eu julgava que ela iria ser a única, Claire Kendal infiltrou-se sem pedir licença e aqui ficou. Para além de saber mexer com a mente das pessoas, ela sabe também como desarrumar os nossos sentimentos, como abrir aquela nossa torneira que nos faz chorar até mais não. Claire Kendal sabe como funciona a mente de um perseguidor implacável.

Classificação da Lyne: 4/5

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