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Amizades virtuais

17 de Outubro, 2015
Fonte fotográfica: Tumblr

Não é novidade para ninguém que hoje em dia as redes sociais estão em alta na nossa geração. Seja por via de publicações ou partilha, as pessoas constroem dentro de si capacidades de socialização atrás dos ecrãs. Há quem se aproveite da vulnerabilidade daqueles que usam a Internet como refúgio, assim como existem aqueles que não dependem de segundas intenções. Eu não acho que fazer amizades online seja um crime. Embora seja algo recente na minha vida, os blogues acabam por conetar as pessoas sentimentalmente. Existe mal nisso? O twitter, o instagram, o facebook. Os reis da festa que nos permitem explorar outras partes do mundo. Que nos facilitam a tarefa de fazer amigos. Confesso, não sou imune a essa situação. Quando eu era uma completa viciada em redes sociais, acabei por me conetar com pessoas desconhecidas, com as quais mantenho uma amizade sólida até hoje. Felizmente, nunca me deparei com situações conflituosas, que me pudessem ferir psicologicamente.
Mas a verdadeira questão é, será que as amizades virtuais têm o mesmo efeito do que as amizades palpáveis? Será saudável dizer “o meu melhor amigo é virtual” e esquecer que existem pessoas à volta? Terá um efeito bom o facto de estarmos constantemente ligados à vida virtual?
Por experiência própria, eu sei como responder a isso. No meio das amizades facebookianas que eu fui fazendo, já tive direito a ver de tudo. Beefs como se costumam dizer; namoros virtuais; pessoas que se conhecem pela net e que quando, finalmente podem, encontraram-se na vida real; publicações macabras e outras que até caminhavam pelo consultório da ajuda dos amigos virtuais. Se eu metia conversa, era para que as pessoas lessem as minhas fanfictions (sim, foi neste contexto em que eu me inseri quando dei início à minha vida social virtual), ou para comentar acerca da fic dessa mesma pessoa, ou mesmo para meter conversa. Eu já falei com muita gente, e essa mesma gente também já me apoiou imenso. Mas não se fiem pela durabilidade, porque tal como na vida real, há amizades virtuais que se perdem por aí ou que simplesmente não dispunham dos pregos necessários para se manterem firmes.
Não é assim tão mau aventurarmo-nos por este mundo fora. Embora pareça de outra galáxia, é possível pessoas que nunca se viram antes pessoalmente manterem uma amizade duradoura virtualmente. Basta seguirmos as regras do dia-a-dia: não deixarmos que as coisas se percam e dar-lhes o devido valor. Quem está por detrás do ecrã também é um ser humano. As pessoas não são aplicações que podem ser instaladas e desinstaladas das nossas vidas à hora que quisermos, nem tão pouco têm certas funcionalidades de que podemos usufruir. O maior voto de confiança que alguém vos pode dar é quando numa situação apertada, essa mesma pessoa desabafa convosco porque sente que já o pode fazer. E isto também acontece cá fora. Como é óbvio, se a pessoa for mal intencionada, as informações ganham vida e começam a visitar casinha a casinha, partindo toda aquela linha que envolvia as duas pessoas. Mas, se alguém nos conta algo pessoal como um bilhete para o seu coração,  por algum motivo é: para ele ficar seguro… E virtualmente, essa situação é mais do que uma prova se a pessoa em quem confiamos é ou não de bom coração, porque na vida real só à chapada para resolver o assunto (brincadeira, não sou assim tão agressiva).
Só por este exemplo, podemos verificar que ter um amigo virtual chega a ser o mesmo do que um amigo “real”. O que pode acontecer é que, no mundo virtual, as pessoas que lá habitam são capazes de terem mais em consideração de como tratar bem alguém (e não falemos daquelas pessoas que são otárias, pois não é disso que eu quero falar). Os sentimentos amargurados de um pode ser o denominador comum para que outro o entenda, quando na sua vida fora do virtual as coisas não sejam como ele deseja.
Eu ainda tenho muitos amigos que conheci no virtual. Com alguns falo diariamente, com outros de vez em quando, mas eu sei que se precisar deles para desabafar, eles estarão lá para me apoiar. Uma coisa que eu constatei enquanto viajava por este mundo desconhecido é que a necessidade que as pessoas alimentam de se refugiarem na internet vem da acumulação e da falta de confiança que existe entre o necessitado e aqueles que o rodeiam. Eu já passei por uma fase em que não conseguia olhar para as pessoas nos olhos por sentir vergonha de mim mesma. Para mim, isso permitia-me vislumbrar as coisas macabras que poderiam pensar acerca da minha pessoa… Para não falar do facto de eu sempre ter sofrido com problemas de peso, algo que sempre me assombrou e fazia pensar que ninguém gostava de mim. Quando descobri a internet e o facebook, foi como que um “milagre”. Ali, ninguém me poderia ver. Ninguém saberia o meu aspeto e apontaria para os meus defeitos. Ninguém me julgaria porque se eles estavam ali, é porque certamente se sentiriam como eu… O que acabou por se constatar. As pessoas com quem eu me fui relacionando sofriam do mesmo que eu… E o mais irónico é que eu não admitia ter este problema, esta falta de auto-estima. Mas tudo foi mudando quando eu tomei uma decisão que me mudou por completo.
Deixei de ter ódio às pessoas da vida real. Decidi desconectar-me do mundo virtual, trazendo comigo as pessoas que realmente me importavam de coração. Caí com a cara no chão, apercebendo-me de que eu estava a desistir da minha vida, sendo consumida pelo “virtualismo” exagerado. Eu estava a deixar de ter vida social, mas isso acabou. Trabalhei as minhas qualidades e fui melhorando os meus defeitos. Permiti-me olhar ao espelho vezes e vezes sem conta, de modo a deixar de ter aquele pavor de encarar as pessoas de frente sem mostrar ter medo. Descobri-me e descobri o mundo. Afinal, quando temos as pessoas certas do nosso lado, ele é capaz de ser bom para connosco.
Se é bom ter amigos virtuais? Sim, assim como termos amigos que possamos abraçar e partilhar do contacto físico. Tal como este, o amigo virtual agarra as palavras dóceis e reconfortantes como abraços que o possam suportar. E nunca devemos perder a esperança de, num dia, os virmos a conhecer pessoalmente, transformando os abraços de palavras em abraços reais e de uma carga diferentes. Vale mesmo a pena passear por lugares desconhecidos, mesmo quando podemos sofrer as consequências? Vale, pois é uma forma de nos mantermos alerta se algo acabar por se desenrolar. Tudo vale a pena até ao ponto em que já não sabemos como nos controlar. Aí, temos de saber pedir ajuda e não ter medo de confessar os nossos medos e erros. É bom estarmos sempre ligados ao mundo virtual, esquecendo aquele que nos rodeia fisicamente? Não. Tendo em conta a minha experiência, que me ia custando pessoas importantes e momentos inesquecíveis, estar constantemente ligado ao virtual não é bom. E utilizar a desculpa do “assim ficamos desatualizados do mundo” é uma treta. Ainda existem jornais feitos de folhas que podemos comprar e ler para sabermos das notícias. Felizmente, ainda existem cafés nas ruas aonde podemos nos sentar com os amigos e colocar a conversa em dia, sem estarmos agarrados ao telemóvel. Ainda existem sítios verdes magníficos que imploram pelo contacto dos nossos pés no seu solo. Como é óbvio, visitar de vez em quando as nossas redes sociais prediletas não tem mal algum, mas é de igual valor quando sabemos pousar as caixinhas mágicas e dedicar o nosso tempo para o mundo que nos abrange.
Procurar conforto virtual não é pecado nenhum, e muito menos sinal de esquisitice. Ainda hoje, uma das ocupações que me deixa bastante relaxada é visitar blogues que eu sigo e que me inspiram bastante para continuar com o meu. É indiscutível sublinhar que eu escrevo para o meu blogue porque gosto mesmo de fazê-lo e visitar outros inspira-me pelo simples motivo de eu não me sentir sozinha nesta jornada. Conversar com aqueles cujo contacto físico eu ainda não tive também deixa-me bastante alegre, pois não deixam de ser meus amigos. Por isso, eu só tenho algo a dizer àqueles que ainda se sentem desconfortáveis por admitir que têm amigos virtuais e que ficam sufocados com esse sentimento: vocês não estão a fazer nada de mal ao quererem conhecer novas pessoas e criar laços com elas. Embora esta ideia esteja um pouco distorcida, o ato de fazerem amigos pela internet não faz com que sejam anti-sociais. É apenas uma amostra de que, quando querem, também conseguem se relacionar com outras pessoas. Se a vossa dificuldade no mundo cá fora for criar e manter laços com alguém, é sinal de que necessitam de melhorar esse aspeto em vocês, e não se sentirem desvalorizados ou fora do tempo. Saber conjugar as nossas vidas está apenas ao nosso alcance e saber escolher quem queremos manter nela também. Basta termos a disciplina necessária para nos tornarmos flexíveis em certas ocasiões e estômago para enfrentarmos as consequências dos nossos atos que coabitarem com as más intenções a que estivermos submetidos.
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    Inês
    20 de Outubro, 2015 at 20:20

    "As pessoas não são aplicações que podem ser instaladas e desinstaladas das nossas vidas à hora que quisermos, nem tão pouco têm certas funcionalidades de que podemos usufruiR. "
    R: entendo a dificuldade em ver filmes que contam muito da nossa história, pior ainda quando é uma parte má da história. Mas deixa -me que te diga que o filme The Help está mesmo genial, por tudo e mais alguma coisa!

    • Reply
      Carolayne R.
      20 de Outubro, 2015 at 21:52

      Essa foi uma das melhores frases que eu já disse/escrevi, e fico feliz por ela te der dito alguma coisa.

      E acerca do filme. Embora não esteja à vontade com filmes do género, não posso descurar da tua opinião acerca dele. Assim que tiver um tempo, vejo-o.

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