A melhor hora para escrever

A essência da noite persuade-me como qualquer onda numa tarde de verão. O dia passa despercebido, entretendo-me com o que encontro pela frente. Exeto naqueles em que me preparo com antecedência, ultimamente tenho vivido com calma. Dessa calma, portanto, vão surgindo pistas de como é que prefiro atuar segundo o relógio biológico.

Pode não ser a melhor hora para o fazer, uma vez que implica alterar o ciclo e qualidade do sono. Contudo, para mim, a melhor hora para escrever é durante a noite. Quando já todos estão embalados no sono, o silêncio a reinar pelos diversos cantos da casa.

A única pessoa ativa sou eu, que ando de mansinho pelo corredor, até à cozinha escura e, numa entrega que parece livrar -me de todas as tensões do dia, suspiro debruçada no parapeito da janela.

Sem dúvida que, a estas horas, uma das minhas paranóias é a de que, entre a miopia, a imaginação e o pânico, tenha alguém a acenar para mim do outro lado da rua… Mas isto são só coisas da minha cabeça e, espero, que para sempre. Para perder horas de sono, prefiro embalar-me nas chávenas de chá que nunca cessam, a música que vai ao encontro da atmosfera que preciso naquele momento e as palavras que decidem o rumo que querem tomar.

Raramente sou eu que as comando. Ainda que para as manter ativas tenha de praticar, é nas pausas que aprendo a escutar o que elas me dizem. Costumam ser muitas, de facto. Há dias em que, dentro de mim, observo um trânsito interminável de temas, outros em que bem poderia alojar diversos oásis e, mesmo assim, o deserto permaneceria….

Muitas vezes, começo textos e deixo-os em repouso.

Não que os termine no momento seguinte, mas expelir o excesso, para que não se transforme num entrave, torna-se urgente. Nunca passaste por esta fase em que tudo se assemelha? Em que mesmo perante as diversas mudanças, reconheces um ou outro detalhe que se mantém? Pelo menos, acerca de ti? Eu tenho vivido isso.

Talvez, trate-se da tal questão da essência que se mantém, embora transformada. Por outro lado, não gosto de escrever à pressa. Esta tem sido uma das inúmeras razões pelas quais não me tenho sentado com o computador à frente. Chamo-lhes de razões como também as poderia chamar de desculpas. Escrever à pressa implica não organizar as ideias, logo, não saber o que dizer. Ou, pelo menos, é o que parece.

Tenho tido mil e uma coisas para partilhar, todas elas condicionadas por este bicho que vou domando e que, por almejar fazer tudo, faz pouco ou nada.

Assim, o que é que posso apurar ao concluir que, para viver, necessito de ter tudo organizado, só que em ritmos que se tornam caóticos? Falará isto da minha ansiedade? Pois, havemos de conviver eternamente, como lapas destinadas uma à hora.

Ela também gosta da noite. Até mais do que eu. Além deste território mental, é uma preferência que nos torna parceiras. Porque ela prefere a noite pela ausência de estímulos que a possam perturbar…e eu, por conseguir escrever o que ela, finalmente, consegue narrar.

O que pensas sobre o assunto? Gostaria de ler a tua opinião! ♥

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