FOLHAS SOLTAS DO MEU DIÁRIO MEDITAÇÕES

Será que os pássaros têm medo de voar?

7 de Maio, 2022

Estava na minha hora do lanche da manhã, agarrada aos meus frutos secos, chamando pela minha consciência para os apreciar. Para sentir os seus distintos sabores, texturas. Neste processo consciente, mas um tanto distraído, olhei para a cobertura de uma das carruagens, onde repousava um pombo. O seu olhar fixava o chão e o seu corpo, rígido e em preparação para voar, faziam parecer que ele estava a avaliar se deveria, ou não, abrir as asas e saltar dali para fora.

Dei por mim a questionar se ele, tal como outros pássaros, têm medo de voar.

Se existe algo dentro dos seus corpos, do seu coração, aos quais podemos chamar de consciência, capacidade de avaliação, emoções. Sei que eles respondem aos instintos. Tal como nós, embora os disfarcemos com condutas sociais. Questiono-me no entanto se, analogamente, eles receiam fazer o que aqui vieram para fazer, explorar o mundo de asas abertas, confiantes da sua missão.

Se calhar, eles acreditam mais em si mesmos do que eu em mim própria. Talvez, eu peque por questionar em demasia, enquanto isso, os pombos daquela estação em lisboa, ou doutro lugar do mundo, partem em direção dos seus desejos, mesmo quando o chão está demasiado longe do topo dos comboios. Mais vale arriscar do que correr o risco de ali ficar uma eternidade, não é?

Se aquele não é um solo fértil para as nossas raízes , porquê permanecer ali?

Se o pombo pertence noutro lugar que não ali, também eu tenho onde fazer corresponder o meu coração. Os meus sonhos. Tenho vivido tanta coisa em simultâneo, que nem dos meus sonhos pareço saber mais. Quer dizer, eu sei quais são, só não nos sinto suficientemente conectados.

A questão não são os sonhos. É comigo. É com as descobertas que tenho feito, com o reflexo que vou reconhecendo ao espelho. A questão não são os sonhos. Eles cá habitam há tanto tempo quanto eu. Passe o tempo que passar, o desgaste visível nas rodas dos comboios. A questão não são os sonhos…é mais a minha humilde para escutar o que eles me querem dizer, para que as asas se abram e se deixem guiar por eles.

Tal como os pássaros fazem ao sabor do vento.

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