Poucas têm sido as séries que me andam realmente a entreter. Não sei se pela promessa de uma qualidade que não se cumpre, se pela cópia de uma fórmula há muito vencida, ou pelo meu lado exigente. Ando a disciplinar-me no que toca ao consumo exacerbado de conteúdos visuais, exatamente, por reconhecer que tenho uma tendência para criar vícios estranhos. No entanto, também me ando a repreender por deambular imenso pelas redes sociais, uma vez que poderia estar a aprender algo com livros, documentários, ou séries.
Como foi o caso desta.
Não esperava vê-la tão cedo, contudo, o despertar em relação a tantas ocorrências de carácter importante na nossa sociedade, inspirou-me a deixar de lado o receio de me vir a identificar em demasia com as mensagens transmitidas. Perante esse medo, predisponho-me a aprender sempre mais! “Self-Made: Inspired By The Life of Madam C.J. Walker” baseou-se na vida daquela que foi a primeira mulher a tornar-se milionária nos EUA, com o bónus de ser negra.
Aquela que parecia uma vida condenada à lavagem manual da roupa dos demais, tornou-se num impulso para almejar mais. Confesso que ainda não pesquisei as fronteiras entre a veracidade e a ficção dos factos, logo, não entrarei em grandes detalhes. Quero, somente, deixar registado o quão inspirador foi ter acompanhado a biografia de uma mulher cheia de sonhos e objetivos, capaz de enfrentar qualquer adversidade!
Madam C.J. Walker poderia ter sido a minha mãe, as minhas avós, ou mesmo uma das minhas tias. Às tantas, até poderia ter sido eu…
Daí a representatividade ser crucial perante cada uma das diferentes comunidades, em redor do mundo… Porque nos permite elevar os nossos sonhos e correr atrás deles, principalmente, quando nos levam a crer que não reunimos as capacidades para tal. Tornam-se evidentes, não só os conflitos que se geram entre os brancos e os negros, como dentro da própria comunidade negra, que se deixa manipular pelas ideias que são criadas no entendimento conturbado dos demais, e propagadas como ervas daninhas.
Chega a ser aterrador observar a rivalidade entre pessoas semelhantes, mas que se distinguem não só pelas suas personalidades, tal como pela pouca diferença dos tons de pele. (*) Por conseguinte, estas variedades puramente biológicas convidam a interpretações e aderências divergentes, de carácter discriminatório. Infelizmente, não é só na ficção que isto se sucede, portanto, é nosso dever agir para que isso mude!
(*) ver sobre o colorismo
“Self-Made: Inspired By The Life of Madam C.J. Walker” é uma série curta e objetiva, que ilustra o percurso desta mulher que vingou no mundo dos produtos capilares direccionados para os cabelos crespos. Tal como abordei no último episódio do podcast, os cabelos africanos foram – e, infelizmente, continuam a ser – muito condenados… Daí que os assumirmos, do modo como eles são, não só simboliza o respeito para com a nossa identidade e herança cultural, como também protagoniza um modo de protesto perante as limitações que nos impõem!
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