Outubro foi o mês dos medos. Por muito que tente escapar deles, a verdade é que ainda tenho uns quantos. O que os distingue, de tempos em tempos, é a minha postura em relação a eles, como tal, de momento, sinto-me mais do que à vontade para admitir que os tenho e que, para muitos deles, nem me dou ao trabalho de encontrar uma solução… Não por preguiça, mas sim porque cada um deles tem o seu tempo e, conforme as situações, para cada um deles haverá algo que os anulará, tendo isso como nome “o crescimento”.
Ora, o livro que escolhi, meio às cegas e que, de uma maneira ou de outra, acabou por se enquadrar com o tema mensal do The Bibliophile Club, foi “A insustentável leveza de ser”, de Milan Kundera. Já cá o tinha há alguns anos… Há tantos que nem sei apurar! Cada vez mais, sou apologista de que existem obras que só nos tocam profundamente conforme a maturidade que formos adquirindo com a transformação das nossas fases. Quando o comecei a ler, julguei que ele haveria de corresponder com o medo que, naquele momento, eu queria explorar: o medo de acabar sozinha, em todos os aspetos da minha existência.
Acontece que com o passar das páginas, fui descortinando um outro que aqui tinha arquivado e, de certa maneira, menosprezado, e que nada mais é do que o medo de perder o livre-arbítrio, não só enquanto pessoa expressiva, como também pela liberdade em poder escolher os trilhos da minha vida! Tomas, a personagem principal, vivia apenas para duas coisas: desempenhar a sua profissão enquanto médico, levando uma vida amorosa bastante multifacetada, embora tivesse estabelecido uma relação e amado uma só mulher, como ele tanto amou: a Tereza.
Desenrolando-se no meio de uma guerra entre a República Checa e a Rússia, qualquer tipo de liberdade era posta em causa, manifestando-se através das ações políticas e que visavam impedir o uso de qualquer voz contra o governo que, na altura, atuava. Tomas, tal como tantas outras personagens referidas, foi vítima desse abuso de poder, tendo tido de enfrentar muitas chamadas de atenção em relação ao seu modo expressivo, caindo numa espécie de ruína e que abalou todo um conceito de estar que ele idealizava perpetuar e concretizar, até ao fim dos seus dias.
Essa alteração de rotina, ter de se reencontrar e se readaptar ao meio, levou a que ele se questionasse, incessantemente, acerca da sua vida e se ele deveria, ou não, cair nas mãos daqueles que o pretendiam controlar, dando-lhe em troca tudo aquilo que ele havia construído. Ter confrontado tamanha obstrução de uma realidade já bem consumada, levou-me a aperceber, uma vez mais, do quão efémeros são os caminhos pelos quais enveredarmos, independentemente.
Podemos já ter uma vida bem assente e planificada, que qualquer acontecimento inesperado levará a que ela se modifique, arrastando-nos com ela. À semelhança de Tomas, que se viu obrigado a confrontar uma volta imensa no seu quotidiano, também eu me vi obrigada a optar por trilhos que jamais julguei aceitáveis, de acordo com os planos que havia tecido, outrora, para mim. À semelhança de Tomas, e não obstante os desafios, também eu os incorporei em mim e os utilizei como vantagem para os superar e com os quais aprender, diariamente!
À semelhança de tantas outras personagens, tais como Tereza, Sabina, ou mesmo Karenine, eu me rejo por valores que divergem dos demais e possuo meios de os expressar, artisticamente, tal como uma paixão pela vida que poucos compreenderão, por muito que eu me esforce em explicá-la! Com “A insustentável leveza de ser”, torna-se impossível de não reconhecer a profundidade que cada um de nós carrega, esta necessitando, apenas, de uma ocasião para se dar a conhecer. Nenhum de nós é raso, todos beneficiamos pelas divergências e todos, sem exeção, nos deixamos atormentar pelas nossas questões. O que fazemos delas é o que nos leva, ou não, a vencer as nossas batalhas!
trabalho e eu agradeço-vos, desde já, pela contribuição! Podem ler mais
acerca do assunto AQUI!
2 Comments
Andreia Morais
13 de Novembro, 2019 at 22:47Foi a minha estreia no autor e fiquei maravilhada! É uma leitura que nos leva a analisar a fundo, a olhar para dentro, pensando na maneira como nos posicionamos na sociedade.
Que excelente escolha 🙂
Carolayne
14 de Novembro, 2019 at 21:59Foi, de facto, uma surpresa agradável!! Gostei mesmo daquilo que explorei ao longo destes dias, sendo que também se tratou de uma estreia!