Durante muito tempo, receei chegar a esta altura da minha vida e sentir-me infeliz pela minha decisão no que tocasse à faculdade. Acontece que à medida em que fui descascando a minha personalidade, fui colhendo no fundo do meu ser as respostas de que necessitava, ao ponto de estar a fazer algo que quero e ao qual estou a começar a nutrir um carinho que jamais julguei ser possível. Quem me conhece e vê na rua, percebe ao longe esta minha satisfação com as minhas decisões e, sendo como sou, gosto que me cheguem as novidades das suas vidas, questionando-os sempre acerca do seu curso, se está a correr tudo bem e se estão a gostar… Acontece que no meio de tanta gente que considero querida, existe uma que, ao lhe ter perguntado se estava satisfeita com a sua decisão, a sua reação deixou-me triste. Ela respondeu que só está a tirar o que está a tirar porque quer trabalhar. Ora essa, eu também quero trabalhar, mas isso não me impede de fazer o que eu gosto. Da mesma maneira que não deveria impedi-la de fazer o que ela realmente gosta.
Acho engraçado o facto de, mesmo observando o mundo como ele é, as pessoas ainda carregarem em si a ideia de que um curso deve ser tirado somente para nos dar trabalho, e desse, um sustento. Da minha parte, eu não me imaginaria a tirar um curso apenas para garantir o meu futuro. Estamos a falar exatamente disso, do meu futuro. Se eu quero ser de facto uma pessoa bem sucedida, então eu tenho de começar por fazer algo que me deixe feliz, satisfeita e de garras prontas para enfrentar o mundo. De nada vale pagarmos euros por uma experiência académica que nos arrastará para uma vida profissional de pura angústia, desespero e vontade de desistir a cada dia que passa. Se for para investir em alguma coisa, que seja na nossa felicidade. Já basta a vida por si mesma para nos encarregar de enigmas e problemas por resolver; é quase um dever nosso descomplicar as decisões que ainda podemos tomar por e para nós mesmos.
A todas as pessoas que estão a tirar um curso exclusivamente pela oportunidade de trabalho, confesso que lamento a vossa situação. Podem até existir pessoas que inicialmente detestam o que estão a fazer e que, eventualmente, começam a nutrir uma paixão pela atividade; assim como pessoas que começam bem e que acabam por descarrilar; mas o facto é que investir cerca de cinco mil euros ao fim de três a cinco anos, por um curso que nem sequer nos faz sorrir, penso que é um desperdício. Se tiverem como gastar o dobro por um curso novo, apoio-vos, sejam felizes, estudem algo que queiram mesmo… Mas se ao contrário da maior parte da população, que tem de quase vender um rim para poder ter o dinheiro de uma das propinas, vocês têm quase que uma oportunidade para acertarem, então comecem por desistir logo ao início e procurar por um curso que vos fascine, que faça os vossos olhos brilharem, que vos arranque um sorriso no rosto, mesmo quando o corpo e a mente dizem que não! Essa conversa de que depois fico velho, não tenho tempo para nada! já não me convence. E tudo porque na minha turma, tenho um colega de 28 anos e que diz estar a tirar Arquitetura agora porque estava insatisfeito com aquilo que fazia. Ora bem, para o mundo andar para a frente e melhorar, é de pessoas destas que precisamos. Para além de persistentes, indivíduos que reconhecem que, sem felicidade, não há nada!
Posto isto, só queria frisar que eu vejo a faculdade como um conjunto de materiais dos quais podemos usufruir, para que possamos, aos poucos, construir o nosso caminho para a felicidade. É óbvio que não existe a felicidade plena, afinal, não vivemos no Admirável Mundo Novo, porém, é a partir de pequenos gestos como este, que somos capazes de alcançar aquele nível extraordinário de realização… E se não formos nós a fazê-lo, então nem o maior salário daqui para a frente será capaz de o fazer por nós. Apenas isto.
Fonte: Tumblr |
3 Comments
Ricardo Francisco
24 de Outubro, 2016 at 10:52Embora a escolha do curso não tenha sido exclusivamente para ter emprego, pesou bastante na minha decisão. O meu sonho era ser actor/cantor mas a vergonha é tanta e como recebem tão mal, pensei que não valeria a pena ir para o conservatório ou algo do género. Restaram-me as Línguas e Literatura ou Comunicação Social e dessas optei por aquela que se aproximava mais do que realmente gostava. Compreendo os dois lados da questão. Por muito que tenhamos sonhos, também há que ser realista. Nem sempre uma coisa influencia a outra. Podemos tirar um curso que adoramos e acabar a fazer algo completamente diferente, e vice-versa. Bom, bom, era se todos conseguíssemos viver confortavelmente com as nossas profissões de sonho 🙂
Ricardo, The Ghostly Walker.
Cherry
25 de Outubro, 2016 at 15:54Adorei tanto este texto! Identifico-me imenso com aquilo que escreveste.
Vejo muita gente a tirar cursos à toa, como se não estivesses a gastar dinheiro nenhum. Há gente no meu curso que só está lá por estar, que nem sequer gosta muito da futura profissão, mas ou é para dizerem que têm um curso, ou para terem dinheiro para sustentar-se.
Sou da opinião que devemos ter em consideração as saídas antes de nos metermos num curso mas, tal como eu escrevi no meu mais recente post, o dinheiro não traz felicidade se tudo o resto é mau, ou seja, se nós odiamos determinada profissão, o bom salário que este nos dá não vai valer de nada, vamos acabar deprimidos e, provavelmente, doentes.
Claro que nem todos nós vamos exercer aquilo que queremos, porque nem todos nós temos as mesmas oportunidades, era bom se todos pudéssemos estar nas nossas profissões de sonho, mas se temos oportunidade de lutar, porque é que não lutamos?
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Vanessa
29 de Outubro, 2016 at 12:27Para mim sempre esteve em primeiro aquilo que eu gostava e depois logo ponderei sobre as saídas. A Multimédia era na altura uma novidade, algo que estava a ganhar o seu devido valor no mercado de trabalho, mas quando de lá saí, fiquei bastante perdida (hei-de falar disso um dia no blog). As saídas eram muitas, duvidosas, sem grandes ordenados e sem a importância que nós demos à área durante 3 anos. Quis ficar na zona e infelizmente provei logo do veneno de algumas pessoas contra a área, mas hoje em dia estou mais do que satisfeita, pois um ano depois trabalho na área, trabalho fora dela e a vida corre-me bem. Tudo depende do nosso ponto de vista e é escusado tentar mostrar aos mais velhos que o importante é gostarmos do que fazemos e não ir para um curso com base nas saídas.
let's do nothing today