Título original: Смерть Ивана Ильича Autor: Lev Tolstoi Editora: Leya BIIS Páginas: 96 ISBN: 9-789-722-036-870 |
Um livro que nos faz refletir acerca de um assunto que tanto adiamos e evitamos abordar: a morte. Nada nos faz sentir tão vulneráveis e impotentes como o discernimento de que tudo aquilo que somos se pode esfumar numa questão de segundos. É agoniante a maneira como nos é exposta todo o processo pelo qual Ivan Ilitch tem de enfrentar, principalmente pelos factos que, juntos, formam todo o puzzle que é a sua vida. Curto e grosso, é assim este livro deve ser definido. Perfeito para nos obrigar a pensar e a valorizar que nem todo o bom estatuto é capaz de nos tornar imortais. Mesmo tendo família e amigos, Ilitch viu-se confrontado com uma situação da qual apenas ele se poderia livrar, mesmo quando o seu desfecho era mais do que óbvio. Embora seja um livro pequenino, levei algum tempo a lê-lo. Pensei que levaria apenas uma tarde, mas enganei-me. A escrita de Tolstoi nada tem de complexa, aliás, penso que ele é bastante objetivo naquilo que quer dizer e isso acaba por jogar a seu favor.
Tal como se passou comigo em O retrato de Dorian Gray (review aqui), A Morte de Ivan Ilitch é uma obra à qual devemos dedicar não só um espaço na nossa agenda, como um espaço na nossa mente. Há que ter estômago para, nesta história, assumirmos o papel da personagem principal e suplantar todos os impasses de uma rejeição inesperada, de um emprego de sonho que não nos valeu de nada, de amigos que apenas ali se encontravam quando o assunto lhes chamava a atenção… Há que ser corajoso para engolir todo o nosso orgulho e admitir que, num mundo paralelo ao nosso, o nosso desfecho talvez seja tão ou pior quanto ao de Ilitch… E quando a consciência estiver preenchida de pensamentos mórbidos e realistas como este, talvez nos caia a máscara e o amor pelas coisas que realmente importam sobressaia no meio de tanta azáfama emocional.
10 Comments
Cherry
1 de Maio, 2016 at 9:20Antes de mais, adoro o novo visual do blog :).
Bem, com o teu post fiquei mesmo com vontade de ler o livro! Adoro a maneira como o descreveste, a escrita deste post está fantástica! O tema da morte é, sem dúvida, um dos temas mais difíceis de abordar para muitos, e confesso que para mim custa-me imenso abordar esse tipo de questões, principalmente quando já tive familiares meus quase a morrer, que se safaram mesmo por pouco. Por isso, penso que ao ler este livro será uma maneira de me desafiar e pôr a pensar.
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Carolayne R.
1 de Maio, 2016 at 13:01Obrigada! ^^
Mesmo que aborde um assunto de algum carácter dogmático, penso que toda a gente deveria ler este livro e aprender um pouco com ele. É que ele não é assim tão pesado… Apenas aborda o assunto com reflexos daquilo que a realidade pode ser, e assim, torna-se muito mais fácil para nós compreendermos.
Obrigada mais uma vez! Tive de fazer jus ao tamanho do livro, para que a review não ficasse muito grande, mas que dissesse tudo! Fico bastante feliz por te ter cativado! 😀
Beijinhos!
Ana S.
2 de Maio, 2016 at 20:55Li o livro há uns anos, adorei, mas já não está muito presente. Porém, o que ficou registado foi precisamente a sua crueza e a forma como o Tolstoi nos faz acompanhar os últimos acontecimentos da vida de Ilicht, quase como se tivéssemos efectivamente presenciado todos os momentos de forma passiva. Do Tolstoi ainda só li esse e um outro, que não se revelou tão interessante (pelo menos para mim), que é A Sonata de Kreutzer. De qualquer das formas, A Morte de Ivan Ilicht deu-me uma sensação semelhante à que me proporcionou a leitura da Metamorfose do Kafka – ou seja, sentir-me um espectador absurdamente passivo mas completamente presente nos acontecimentos, ao ponto de me sentir tão inútil e inglória como a personagem principal.
Carolayne R.
14 de Maio, 2016 at 23:29Quero tanto ler "A Metamorfose"… Estava para o comprar no Natal, mas preferi "O processo"… De qualquer das maneiras, sei de que gostarei de ambos por serem livros que abordam assuntos "controversos".
Quanto ao Tolstoi, fiquei com imensa curiosidade em ler outras das suas obras. Aposto de que me divertirei bastante!
Nádia
2 de Maio, 2016 at 23:04Li este pequeno livro na biblioteca municipal da minha zona, num dia em que não me apetecia fazer as leituras para a dissertação. E concordo com o que dizes: é preciso coragem para o lermos, é como olhar a morte de frente. Hoje, não conseguiria. A parte engraçada é que julgava que o livro fosse de Dostoiévski (não na altura que o li, mas agora tinha essa ideia), mas na verdade o Tolstói faz uma reflexão semelhante em Anna Karenina, através do personagem Levin.
Carolayne R.
14 de Maio, 2016 at 23:31Já ouvi falar bastante em Dostoiévski e agora que me lembraste, tenho de pesquisar uns quantos livros dele. Ando a apaixonar-me cada vez mais pelos clássicos da literatura! E o Anna Karenina também já está incluída na wishlist! 😀
Tim
3 de Maio, 2016 at 15:21Apesar de ter um tema delicado vai para a lista xP
Carolayne R.
14 de Maio, 2016 at 23:33É um livro que aconselho bastante! Penso que todas as pessoas que gostam de ler, deveriam aventurar-se por este livro. Tenho a certeza de que a perceção de muita gente mudará!
Miguel Gouveia
6 de Maio, 2016 at 7:32Muito obrigado, querida 😀 De facto esqueci-me das cartas e do livro que são mesmo essenciais. Tenho mesmo de matar este desejo, este verão 😀
Em relação ao DIY, tento sempre trazer-vos coisas muito simples para que vocês possam reproduzir 😛 Também tenho em mente mais alguns… Só me falta é tempo ahahah
Parece-me um livro muito bom, até porque aborda um tema que nos deixa sempre meio abananados. Além disso é algo muito atual. Creio que estes livros se querem mesmo assim: crus. Fiquei curioso por o ler!
NEW OUTFIT POST | Lush Life.
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Carolayne R.
14 de Maio, 2016 at 23:36Para nós que enfrentamos problemas complicados em relação ao nosso corpo, este livro acaba por ser um abanão na nossa mentalidade. Confesso que sempre que me vejo aflita em alguma situação interior, recordo-me d'A morte de Ivan Ilitch e parte do meu desassossego acalma. Acho que deverias mesmo de lê-lo!