Aveiro é como um grande lençol de pequenos retalhos. Assim que entrei pela avenida principal, senti-me na Avenida Fontes Pereira de Melo, a caminho do Saldanha. Recordei-me do passeio de barco pelo rio Sena, quando as indicações do mapa me levaram para junto do fórum Aveiro, onde muitas pessoas tiram fotografias às pontes da amizade munidas de fitas coloridas.
Foi como se nunca tivesse saído de casa, como se tudo o que conheço de alguns lugares também tivessem viajado comigo.
Não me recordo de quando é que meti na cabeça que queria ir para Aveiro. Talvez pela popularidade nas redes devido às casas de praia com as fachadas listradas – e que ainda não tive a oportunidade de visitar -, ou se por ter ouvido que, ali, conseguimos descansar e repor as energias. Só sei que há umas semanas, entre respirar fundo e deitar-me, tinha o bilhete de autocarro comprado e o hostel reservado.
Esta cidade é exatamente como a Inês a descreve, a casa das andorinhas. Eram perto das 20h do dia 25 de junho, quando espreitei pela janela e ali estavam elas, a cirandar pelo céu, numa algazarra feliz e rodopiante, compondo a banda sonora do meu final de dia.
Acho que nem mesmo na infância me recordo de alguma vez ter visto tantas andorinhas num céu só. Mas não é só aqui que elas estão, elas também vivem em todas as casas de souvenirs, partilhando formas, tamanhos e cores às quais, obviamente, tive de aderir.
Esta é a minha segunda andorinha, uma amarelinha que me encantou.
A primeira foi-me dada por uma amiga e é preta. Adoro-as! Além das andorinhas, Aveiro é uma explosão de cores, padrões, composições. Sabes aqueles efeitos dos alucinogénios? Nunca experimentei, mas creio que tenha sentido algo semelhante, sobretudo depois de entrar numa das lojas de recordações.
Inspirei pequenos pedaços de arte e o meu cérebro explodiu com mil e uma ideias que permiti que ocupassem o seu devido espaço. Aveiro é o que chamaria de solução urbana perfeita. Ou a ideal, vá. Além de a conseguirmos percorrer a pé sem problema algum, há um conjunto de fatores de acessibilidade que me fascinaram.
Mesmo com um caudal de água que rasga a cidade, não há momento para entrarmos em pânico quanto ao modo de o ultrapassarmos.
Numa distância considerável, há pontes que nos ajudam nessa tarefa, raramente vi carros acumulados a causar trânsito, ainda que com obras a decorrer, não vivi nenhuma experiência desagradável como aconteceria, por exemplo, em Lisboa.
Não dá para ocultar algumas alturas, mas nada que se compare com a cidade das Sete Colinas! Aveiro, ou pelo menos o seu centro, é uma cidade pequena, silenciosa, a representação de um meio urbano rural, que junta o melhor da cidade dos 15 minutos e que, só agora, muitos aspiram aplicar nos seus planos.
Já se passaram dias, mas ainda estou a ressacar desta viagem.
Foi a primeira que fiz sozinha em 25 anos, a mesma que acordou este bichinho que não quero que adormeça novamente. No dia em que lá cheguei, tive o prazer de acompanhar um jogo de basket amigável num parque, para ao qual até fui convidada. Só não participei porque na altura estava lesionada do joelho, mas teria integrado sem problema algum.
A estadia no hostel foi deveras agradável, não só pelo staff que me acolheu super bem, como pelos demais hóspedes que sorriam sempre na presença de outrem. O terraço, para mim, foi a minha zona de eleição e onde consegui tomar uma das minhas refeições. O espaço é muito asseado, espaçoso, iluminado. O ar circula que nem uma maravilha e, embora as escadas sejam antigas de madeira, o eco não se ouve no interior dos quartos.
Embora não me tenha aventurado pelos ovos moles, também não fiquei com a sensação de ter perdido alguma coisa. O deambular pelos recantos do centro de Aveiro, em diversos momentos do dia, foi o bastante para me alimentar a alma e, sem dúvida, ajudar-me a descansar. Amei a sensação de viajar de mochila às costas, não obstante o peso que, da próxima, farei para ser mais leve! Não havia a necessidade de andar tão carregada! *risos*
Foi a viagem que veio substituir uma que queria ter feito para Madrid, superando as minhas expectativas! Só para teres noção…
- gastei 12,98€ no bilhete de autocarro (ida e volta);
- + 21€ numa noite no Aveiro Rossio Hostel (com acesso privado à casa de banho e pequeno-almoço incluído);
- + 15€ em comida no continente para preparar as marmitas dos passeios (incluindo grão de bico, frutas, ovos, atum, água e aperitivos);
- + extras (souvenirs e jantar fora).
Assim, retirando os extras, considero-a como uma viagem relativamente barata e acessível! Se quero voltar? Com certeza, só que desta vez para Águeda! Mal posso esperar para regressar. Até lá, revisitarei as memórias com um sorriso no rosto e a certeza de que foi um dinheiro bem empregado!
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