Estou a levar tanto tempo a escrever sobre este livro quanto levei para o ler. Por norma, não procrastino com Saramago. Só que, ultimamente, tenho explorado novas facetas do meu lado leitora. Sinto que os gostos querem mudar, eu é que não os deixo se concretizarem. Alimentei a curiosidade sobre o homem duplicado desde que vi a adaptação no secundário. Ou no básico, já não me lembro bem.
Sei que o ator principal é o Jake Gyllenhaal e a adaptação não é assim tão verossímil com o original. Mas disso já todos sabemos. O homem duplicado é um livro de carácter mais existencial, em comparação com os que já li. Talvez, o que se equipare mais seja as intermitências da morte, pelos motivos que o próprio título indica.
Aqui, acompanhamos a jornada de Tertuliano Máximo Afonso que, por recomendação de um colega de trabalho, aluga um filme em específico.
Ainda se lembram, inclusive, dos videoclube? Esta referência foi das que me ampliou o sentido de nostalgia, além de me lembrar de todas as cassetes que ainda tenho deste tipo de estabelecimento que praticamente já não existe. Dali, a personagem depara-se com uma imagem que o inquieta imensamente, ao ponto de o levar a cometer pequenas loucuras que chamam imensas vezes ao palco o seu senso comum.
Como poderia ser possível que ele tivesse um duplicado, igual a tudo, inclusive na voz e cicatrizes da vida? Assim, ao longo da leitura, descobri uma narrativa de stresses, egocentrismo, falta de enraizamento. Digo-o, porque conforme as cenas passam e as necessidades de Tertuliano Máximo Afonso se moldam de acordo com o seu desejo de desvendar tal mistério, conheci uma personagem deprimida…
Que usou sentimentos alheios a bel-prazer, mascarando-os de um amor que nem mesmo ele compreendia.
Dali adiante, guardei um questionamento: no que é que nos tornamos quando já não sabemos quem somos? Sobretudo quando a nossa realidade é posta em causa e virada do avesso? Da minha experiência, em que situações fui Tertuliano Máximo Afonso e outras em que incorporei o espírito de Maria da Paz? O final do livro deixou-me desorientada por diversas razões:
- não só pela ausência do autor que jamais poderá dar continuidade à trama;
- mas também pelo final em aberto que não explica as origens dos duplicados.
Senti-me abandonada, desafiada, ansiosa. Mas o fascínio por Saramago só aumenta. Embora este não se tenha tornado num favorito, é daqueles que me acompanhará sempre. Seja pela nostalgia. Inquietação. Ou uma curiosidade pontual sobre quem são, na verdade, os homens duplicados.
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