Existe um conjunto de escritores a quem quero dar uma oportunidade, no entanto, torna-se numa espécie de impulso recorrer àqueles aos quais já estou habituada e pelos quais nutro um apreço enorme. Para além do grandioso Saramago, existe o seu complementar oposto, no sentido da sua origem, da sua escrita e pelos seus tratamentos narrativos aos quais, bom, ficam impossíveis de se esquivar. Foi na visita à biblioteca pessoal da mãe de uma amiga minha – acaba sempre por ser numa dessas pequenas explorações pelos gostos dos demais -, onde me deparei com uns quantos livros do Murakami e que eu ainda não havia lido, tendo-os trazido a todos para casa, uma alegria inconfundível a se me palpitar no peito.
Comecei esta jornada pelo livro que me chamou mais à atenção: “Em Busca do Carneiro Selvagem”, publicado, pela primeira vez, a 13 de outubro 1982. Fazendo da expressão de um conhecido meu uma desculpa para o repetir “Então, mas agora lês sobre carneiros?” – qualquer que seja o tema abordado por este escritor japonês jamais será, somente, acerca desse tema. Para os que já lhes estão habituados, com certeza já denotaram que os títulos dos seus livros enganam bastante, embora concentrem em si o objetivo de evidenciar o tema principal, mas, como já disse, nem sempre se cinge a isso: Murakami é um mestre em criar narrativas complexas contadas de um modo simples, fazendo-nos deambular pelos factos históricos, científicos e antropológicos mais interessantes de sempre!
Ele consegue, de maneira exemplar e natural, inserir e tratar cenas de um quotidiano, digamos, normal, tornando a experiência de leitura mais fluente e identificável. Os diálogos, de carácter inteligente, são palco de discussões de temas da atualidade e que facilmente se adequam pelos diversos panoramas temporais e espaciais em que são explorados, gerando uma espécie de pluralidade interpretativa, pelo mundo fora. Já reparei que é muito raro as suas personagens não terem nome próprio e acredito que, do ponto de vista da nossa atenção, isso permita a que o nosso foco seja conduzido para as características psicológicas e existenciais dessas mesmas personagens, embora a curiosidade de os conhecer por esse detalhe tenha o seu peso – o mesmo que está correlacionado com o nome e a identidade que, automaticamente, moldamos conforme a nossa base de dados pessoais -, a verdade é que os reconhecemos pela sua personalidade.
Ter conhecimento de um determinado nome é como uma desculpa para que percamos a concentração, pois, torna-se num alicerce para identificarmos a personalidade que estamos a conhecer, despojando, em parte, o seu carisma. Pode parecer um tanto desconexo toda esta discussão dos nomes próprios, mas não é em vão: algures por entre estas páginas, também as personagens debatem acerca deste tema e achei mega interessante ao facto do próprio autor pegar nos seus detalhes e evidenciá-los enquanto um aspeto que parece ter passado despercebido, mas acerca do qual ele domina mais do que julgamos! Não é simplesmente genial? “Em Busca do Carneiro Selvagem” nada mais é do que uma grandessíssima metáfora acerca do livre arbítrio, da linha condutora de determinadas influências políticas e dos sacrifícios a que estamos dispostos a cometer, por uma conexão que nos diz imenso.
Posso afligir-me, por diversas vezes, pelo tempo e pela velocidade a que leio determinados livros, no entanto, na companhia de Haruki Murakami, sinto-me sempre segura e confiante de que determinada leitura não só será aprazível, como rápida e elucidativa, transportando a capacidade de me preencher por todos os cantos do meu ser, completando, então, um ciclo bonito e colorido na minha vida! Mesmo existindo uma panóplia de autores merecedores da minha atenção, julgo que nunca será demais me refugiar naqueles que, com o passar do tempo, passaram a compreender as minhas necessidades, solucionando-as com destreza e animação, raramente falhando para comigo. Uma das coisas mais belas de se ser um leitor é essa: nos reencontrarmos, por muito envolvidos num mistério que raros compreenderão!
Conheciam este autor? Já leram algum dos seus livros? ♥
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2 Comments
Andreia Morais
29 de Outubro, 2019 at 20:51Tenho mesmo que me aventurar em Murakami!
Carolayne
14 de Novembro, 2019 at 21:59Vale muuuuito a pena!!!