Uma Carta d’Amor, que Não Deveria Ter Sido Partilhada

Este começo já teve muitas versões. Uma enquanto me olhava no espelho. Outra enquanto servia o chá. A verdade é que nenhuma destas palavras deveria ser registada e muito menos submetidas aos olhares públicos. Contudo, acho importante fazê-lo. Quero que as leias. Se as leres. Quem sabe, compreenderás estas mensagens e isso te ajude em alguma coisa. O tempo já se transformou em muita coisa para os meus lados. De igual modo, já me fez rasteiras e ajudou-me, por se aperceber do quão perturbada me sinto às vezes.

Julgo nunca me ter acontecido assim.
Isto de te sentir e a um desejo imenso…
Mesmo que não hajam indícios de que ele deveria existir.

Sinto falta, admito. Falta dos pequenos detalhes que partilhámos, mesmo que numa fase um tanto inicial, inocente. A tua falta. Penso em ti imensas vezes. Ultimamente, tenho vivido uma sequência repetitiva entre adormecer e acordar a pensar em ti, sobretudo quando me entrego. Salvo quando estou realmente mergulhada nos meus afazeres, não sei como te esquecer. Não faço a mínima se o quero, realmente. Sim, não sei se te quero esquecer. E não o sei se deveria fazer, pois, será como se tu nunca tivesses existido.

Bem me conheço, ao ponto de admitir que quando deixo ir, é para sempre. Não neste tom tão radical, mas lá perto. Admito, igualmente, que se eu trabalhar para te esquecer, será como que uma afronta para o meu lado esperançoso. Para o meu espírito jovial, movido pela minha criança interior, e que se deixa entusiasmar pelos sentimentos bonitos. Atingi um ponto em que já nem sei discernir se faz algum sentido eu estar assim…

Assim um tanto atordoada, triste por ter observado ter-me sido tirado um momento que estava a acontecer.

Estou triste, sim. Moribunda. Revoltada, porque pela primeira vez, eu fui, mesmo com medo, tentando ignorar os traumas que correm ao meu lado, nesta maratona sem fim. Fui, comecei a entregar-me… E, como sempre, não deu em nada. Devo estar a procurar pelas pessoas erradas. Em sítios inadequados. Sim, deve ser isso. Só pode ser isso. Porque não é possível… Não é possível que eu tenha tanto azar… Gosto de pensar que esta distância é temporária.

Poderei estar a iludir-me, todavia, só o tempo, esse mesmo que vive de várias facetas, me poderá trazer respostas. Choro muito. Adormeço imensas vezes a chorar, a desejar que esta realidade seja um pesadelo e que nenhum de nós tenha tido de se afastar, para viver as suas vidas. Acordo, muitas vezes, a fingir que está tudo bem. Mas o que escala dentro de mim é um acesso de maresia chorosa, lágrimas que prometem nunca terminar.

Creio nunca ter chorado tanto por alguém. Ou, pelo menos, pelo que parecia estar a decorrer.

Consoante me vou conhecendo, vou descobrindo por que me apego tanto. Por que escolho abafar o que seria melhor para mim, em prol de gestos desesperados e de quem não quer perder o fio à meada. No entanto, conforme vou desenrolando os mistérios que em mim habitam, apercebo-me de que o melhor que tenho feito é não te dizer nada. É respeitar o teu silêncio. Não por me teres feito mal, ou por não gostar de ti. Mas antes para eu não me desrespeitar uma vez mais. Basta disso.

Visto que errei muito ao longo da minha vida, tenho tentado não errar. Reconheço que te poderei perder, ao não agir. Sei disso perfeitamente. Porém, tens de compreender que uma vida inteira a lidar com a rejeição teve de me transformar, temporariamente, na pessoa egoísta. Em alguém que prefere, também, o silêncio às demonstrações de amor. O meu maior gesto de apreço tem sido esse. O de ficar na minha, a remoer sozinha.

Só ontem é que fui capaz de chorar por ti, em frente do meu melhor amigo. E ele, por conseguinte, foi o único que me conseguiu compreender e as razões de doer tanto…

Porque ele viu o entusiasmo de quando eu falava de ti. Ele acompanhou a minha alegria ao proferir o teu nome. E, infelizmente, ele viu-me, uma vez mais, a absorver outra rejeição. Outra perda. Ambos acreditamos não estar nada perdido, embora eu já não saiba em que mais acreditar. Escrevi no meu diário, num dia destes, que eu só quero voltar a acreditar. Já que oiço tanta coisa que nunca peço e que lá contribuem para as minhas ansiedades, o foco, de momento, é o de me livrar disso.

Pelo caminho, eu volte a acreditar. Que voltes, apesar de nada indicar que sim. Na minha melhoria. Que eu me torne a abrir, desta vez sem bostas. Poderá levar uma eternidade, mas que fique tudo bem. Espero que não leve assim tanto. Ademais, desejo que estejas bem. Que a decisão que tomaste te esteja a fazer bem. E que eu não tenha feito algo de mal, sem me aperceber.

Esta carta jamais deveria ter sido partilhada.
Desconheço as razões de a ter partilhado, sequer.
Sei, no entanto, que se transformará numa memória que, sem dúvida, eu quererei visitar.
Quiçá, tu também
.

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